Dr GERALDO TEIXEIRA DE LIMA, UM MITO...

EM 1.971, quando o quinto Prefeito de Vazante, Seu Antônio Augusto Ribeiro, Antônio Secretário, tomou posse, providenciou a construção de um pequeno Hospital, localizado na rua Pereira Guimarães, cumprindo uma promessa de campanha.PARALELAMENTE saiu a procura de um médico que quisesse se transferir definitivamente para Vazante. O povo já estava cansado das visitas semanais de médicos, os quais inconsistentes, sem mais nem menos desistiam até mesmo dessas visitas, deixando os seus pacientes na mão. Não demorou muito e anunciou que havia encontrado um jovem médico recém-formado que topou vir para Vazante.FOI uma alegria geral no dia em que Dr GERALDO TEIXEIRA DE LIMA desceu do ônibus e veio pra ficar. Antes ele tinha vindo conhecer a cidade, assinar os compromissos com a Prefeitura, tratar de acomodações e decidir definitivamente que viria.JOVEM de uns vinte e cinco anos. Cabelos longos, cobrindo-lhe as orelhas. Rapaz sério, de fino trato, muito educado, boa aparência. Instalou na casa que lhe fora reservada, fazia parte da avença com o Chefe do Executivo. Ficava ali na rua Olímpio Corrêa, abaixo da praça da igreja. Casa essa de propriedade da Cia. Mineira de Metais, que a título de colaboração havia cedido para a Prefeitura acomodar o novo médico.PASSADO pouco tempo que Dr Geraldo Teixeira de Lima havia chegado em Vazante, ele se casou em Patos de Minas com Leda Pinheiro Teixeira, que com ele veio aqui residir. Ele vindo da região de Tiros e ela de Patos de Minas, fariam de Vazante a segunda terra natal de ambos, de onde não pretendiam sair tão cedo. Assim planejavam.POUCOS dias da sua chegada, me tornei amigo do Doutor. Era um privilégio tê-lo como amigo e para ele seria importante fazer amizades com pessoas formadoras de opinião, porque havia uma forte resistência á presença de um médico na cidade. O povo tinha o costume arraigado de procurar o farmacêutico para o tratamento das suas mazelas, sem pagar consultas, pagando apenas o remédio que lhe era indicado. Muitos o olhavam de esguelha, desconfiando da sua juventude, pois eram acostumados a consultar com médicos mais velhos e conhecidos das cidades vizinhas de Coromandel ou Patos de Minas.A PERMANÊNCIA do Dr Geraldo em Vazante teve por um fio...O TEMPO foi passando e o novo médico foi se fazendo conhecido e mostrando para a comunidade a sua competência e o seu caráter de uma pessoa determinada a viver e servir a nossa gente. Mostrava o seu zelo e a sua responsabilidade profissional, conquistando a confiança de todos.
COM o tempo trouxe pra Vazante seus irmãos mais novos que se formaram também na privilegiada profissão de médicos. Primeiro veio o Dr Elzo Teixeira de Lima e depois a Dra. Regina Teixeira de Lima. Ambos também adaptaram com mais facilidade em Vazante e hoje aí estão com uma larga folha de serviços prestados à comunidade. Com famílias aqui constituídas, são também vazantinos de coração.CONSOLIDOU-SE como vazantino. Nasceram-lhes os filhos, Alan, Leia, Rodrigo e Nadia. Os dois varões, também, médicos; a Leia, Cirurgiã Dentista e a caçulinha, Fisioterapeuta. Uma família amadíssima pela sociedade e que engrandeceu muito a área de saúde de Vazante. Apenas o primogênito, Alan, preferiu ficar fora da sua terra natal, residindo em Uberaba, onde presta importantes serviços na área da saúde, como Pesquisador e Professor Catedrático em uma importante Escola de Medicina.  Pena que as autoridades locais não conseguiram segurar o Dr Rodrigo Teixeira em Vazante, sendo ele um respeitado pediatra, muita falta faz às nossas crianças. Mas onde está é respeitadíssimo pelos seus colegas e por todos os seus clientes, que não são poucos.
NÃO só eu. Muitos de nós aqui de Vazante, temos o  Dr. Geraldo como um irmão. Além do médico de confiança da família é aquela pessoa que tem lugar garantido nos eventos sociais, festinhas de aniversários, casamentos e até mesmo em reuniões festivas sem qualquer motivo.  Verdade que ele é avesso a eventos, principalmente se tiver conotação política ou que o objetivo nele se concentre.MAS a sua permanência entre nós teve por um fio...DOUTOR Geraldo foi e é muito importante para Vazante. Famílias e mais famílias são gratas a ele pelos inúmeros serviços prestados a algum parente, amigo e de modo geral a nossa gente. Foi o mentor e idealizador do primeiro Hospital aqui construído, o HOSPITAL CRISTO REI, onde juntamente com seus irmãos, Elzo e Regina e, por algum tempo, Dr Jacques Soares Guimarães, prestou relevantes serviços médicos hospitalares a nossa gente. Hoje funciona como Clínica Cristo Rei.PASSADO algum tempo para se firmar mais como vazantino passou a ser fazendeiro. Adquiriu uma fazenda na beira do rio do Claro, onde cria gado de leite e de corte. Como não poderia ser diferente, obteve muito sucesso nesta nova profissão.POR QUÊ a permanência do Dr Geraldo Teixeira de Lima esteve por um fio?ASSIM que aqui chegou, como já disse, procuramos nos aproximar do Doutor, para auxiliá-lo no que fosse possível e encaminhar os pacientes ao seu consultório. Numa dessas o Virmondes da Silva Barra, o nosso conhecido Baianão, me chamou para irmos até a residência do Dr Geraldo, pedir a ele que fosse até a casa do seu primo, conhecido por Jove, que necessitava de cuidados médicos. Residia ali na rua Olímpio Corrêa, acima da praça da Matriz. Era um homem novo, mas o seu estado de saúde vinha se agravando dia a dia e expirava perigo. A preocupação da família era muito grande. Tinha esposa, a D. Nair e um filho ainda criança.FOMOS, eu e o Baiano até a casa do Doutor, que ficava  próxima a casa do paciente, que era na mesma rua, porém do lado de cima da praça. De lá viemos os três de pé, pois naquele tempo nenhum de nós possuía um automóvel. Não apaga na minha lembrança ver o Dr. Geraldo rua afora, carregando a sua malinha preta com os seus instrumentos de trabalho dentro. Lá chegando ficamos do lado de fora da residência conversando com a esposa do Jove, enquanto Dr Geraldo o examinava.TERMINADA a consulta retornamos rua abaixo e o Médico ia nos informando, principalmente para o Baiano, que era seu primo, que o estado de saúde do paciente era das mais graves. O seu coração estava seriamente comprometido. O Baiano concordava e até disse que ele já tinha feito exames de sangue que confirmou ser ele um chagásico. Ou seja, testou positivo para o Trypanosma cruzi, o que era muito comum na região. Então o Doutor disse que tinha lhe passado uma receita e nela estaria incluída uma injeção. Orientou ao paciente que fosse até a farmácia o mais rápido possível ao fim de aviar a receita e tomar a injeção.DEIXAMOS o Doutor Geraldo na sua casa e descemos rua afora, lamentando aquelas informações negativas do médico. O Baiano, ainda solteiro, morava ante da minha casa. Lá ficou e eu fui pra casa.MENOS de uma hora depois, chegou a notícia dizendo que o Jove havia morrido. Corremos eu e o Baiano para a sua residência ambos morrendo de medo de estarmos diante de uma tragédia para o jovem médico. Mas graças a Deus, não confirmou a nossa preocupação. Lá chegando tomamos ciência de que ele se dirigia para a farmácia a fim de aviar a receita e tomar a injeção, e a meio caminho sofreu um ataque fulminante do coração, vindo a óbito na calçada onde estava.POR ISSO que estou sempre a dizer desde o início desta narrativa. “A PERMANÊNCIA do Dr. Geraldo entre nós teve por um fio...” A PESSOA bem-intencionada tem sempre a proteção Divina. É o que sempre digo. SE o Jove tivesse chegado até a farmácia e tomado aquela injeção receitada pelo Dr Geraldo, de duas, uma poderia ter acontecido. As vezes a injeção prolongaria a sua vida, o que seria ótimo.  Mas do contrário, se ele tivesse tomado a injeção e morrido, o Dr Geraldo Teixeira de Lima podia arrumar as malas e subir o indaiazinho de volta. Ninguém o perdoaria, pois ainda estava naquela fase de desconfiança pela população.MAS Deus é grande e nos mandou esse presente pra ficar.OBRIGADO Dr Geraldo Teixeira de Lima por estes quase cinquenta anos de permanência entre nós.OBRIGADO Dr Geraldo, por todas o velhos, adultos, jovens e crianças que passaram pelas suas mãos sagradas, recebendo a benção de serem curadas e aliviadas dos males que lhes afligiam.OBRIGADO Dona LEDA PINHEIRO TEIXEIRA, pela dedicada companheira deste MITO que muitas alegrias nos trouxeram. Obrigado, também, pela beleza de filhos que gerou nesta terra abençoada por Nossa Senhora da Lapa, os quais vieram coroar essa união iniciada em momentos de dificuldades e incertezas.O POVO DE VAZANTE AGRADECE PENHORADAMENTE A FAMÍLIA “GERALDO TEIXEIRA DE LIMA”. QUE DEUS OS ABENÇOEM!!!! COMO de praxe foi apresentado para as autoridades, pessoas respeitáveis da cidade e lhe fora entregue as chaves do novo Hospital. NÃO era uma construção nova. Aproveitou-se de um barracão preexistente e o remodelou para ser o Hospital da cidade, o que tanto almejávamos. Ficava na Rua Pereira Guimarães, a um quarteirão da Prefeitura Municipal. PASSADA a fase inicial, onde reinava os tratamentos mais cerimoniosos, Dr Geraldo foi criando ambiente para ter uma vida mais social e se fazendo amigos de todos e em particular de alguns. Logo ele demonstrou o seu amor pelo futebol. Convidado, participava de treinos e jogos amistosos, criando um círculo de amizades que muito auxiliou na sua permanência em Vazante e diminuía o seu isolamento. Gostava de tomar a sua cervejinha, mas se precavia em não frequentar os bares, modos de evitar comentários maldosos. MAS a sua permanência em Vazante esteve por um fio...ME AUSENTEI de Vazante por alguns meses, para estudar em Brasília e no meu retorno verifiquei que o doutorzinho já estava com a sua posição bem solidificada. Com o tempo adquiriu mais confiança e também tinha chegado outro colega, Dr José Benedito dos Reis Calçado, para somar a ele no trato da saúde dos vazantinos. A esposa se adaptou na cidade, criando amizades e dando o necessário apoio ao marido para o exercício da sua importante missão de cuidar da saúde de um povo, que viveu até então sem esses cuidados.MAS antes da chegada do outro médico, ainda sozinho no hospital, presenciei uma passagem terrivelmente emocionante envolvendo o Dr Geraldo e um paciente. Muitos, além da família, devem recordar quando o Djalma, filho do Seu Romeu Rabelo, foi acidentado por um boi, que o espremeu num mourão da porteira, lá na fazenda do seu pai. SOCORRIDO imediatamente o trouxeram para Vazante e diretamente para o Hospital. Naquele momento eu estava lá em conversa amena com o Dr Geraldo. Situação dramática. O boi havia espremido o tórax e o abdômen do Djalma no mourão e causado vários traumas naquela região.DR GERALDO fazia o possível e o impossível para salvar o rapaz, mas tudo em vão. O aparelho de aferir a pressão ligado no braço dele e a gente vendo a pressão dele ir caindo, caindo... Dr Geraldo fazia injeções, massagens, mas não havia nenhuma reação.O DJALMA, moço instruído, tinha consciência da sua precária situação, dizia pra sua esposa, que acompanhava aquele martírio do marido. -Bem. Faça isso. Faça aquilo. Tome conta dos nossos filhos... Eu estou morrendo!!! Fazia praticamente um testamento, vendo que a sua vida se esvaia aos poucos.COLOCARAM o acidentado num veículo e saíram em disparada em direção à Patos. Dr Geraldo falou comigo, ele não vai nem no indaiazinho. De fato, antes do indaiazinho ele faleceu.O JOVEM médico ficou arrasado. Confidenciou comigo se tivesse mais um médico junto a ele naquele momento ele abriria o rapaz e talvez conseguisse conter a hemorragia que estaria minando a sua vida. Foi um momento difícil, pois ele já tinha amizades com familiares do rapaz e aquilo de certa forma o deixou bastante chateado.SUPERADO o acontecido a vida teve a sua continuidade.AGORA o Dr Geraldo Teixeira de Lima era para todos o Dr Geraldo. Para alguns mais íntimos era o Véio o que queria dizer (velho). Apelido que ganhou nos campos de futebol. Nem sei por quê. Não era ele o mais idoso dos campos de pelada e terminou ficando com esse apelido. São coisas da meninada. Todos já tinham bastante intimidade com ele e a recíproca era verdadeira. Teve até um mais atrevido que suspendeu os seus cabelos longos para ver se ele faltava mesmo uma das orelhas, conforme as más línguas apregoavam, dizendo que os seus cabelos compridos era pra cobrir essa deficiência auricular. Já tomava a geladinha junto conosco após um jogo de futebol, ou mesmo nas tardes calorentas, e nas frias também. Fez-se muito amigo da Dona Carolina e do seu irmão, o Dico Preto. (O Preto era para diferenciar de mim, que também tenho a alcunha de Dico). Quantas saudades desses dois! Mas são muitas e sinceras saudades, mesmo...


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