DONA LORICA ,A PARTEIRA DE VAZANTE

Creio que se falar que até os anos 70 e um pouco mais, aqui na nossa cidade e região, a maioria das crianças eram gestadas e nascidas sem assistência médica, a maioria não vai acreditar. A mulher engravidava e, sem qualquer assistência médica, ia até o dia do parto, que era feito geralmente por uma parteira, invariavelmente na própria casa, ou em casos esporádicos na casa dos pais ou dos sogros. Por isso não me cansarei de falar das pessoas que ajudaram na construção da nossa vazante.

D. Laurinda Tavares da Silva, a Dona Lorica, foi uma das pessoas da maior importância para todos em Vazante, durante os longos anos que Deus lhe permitiu viver entre nós. É difícil não encontrar dentre as famílias de vazante, os hoje adultos e até de terceira idade, na faixa etária de 40, 50, 60 anos e até mais, que não tenha passado pelas mãos sagradas da Dona Lorica no dia do seu nascimento.

De família tradicional da região, veio da fazenda arrependido pra vazante. Foi casada com Pedro Cândido da Silva, e desse consórcio nasceram-lhes onze filhos: Antônio Cândido da Silva, Mariano Antônio da Silva, João Cândido da Silva, Geraldina Cândida da Silva, Erondina Tavares da Silva, Maria Tavares da Silva, Rosa Laurinda da Silva, Zama Cândido da Silva, Delécia Cândida da Silva, Elza Cândida da Silva e Nesia Cândida da Silva.


Quando eu a conheci ela já era viúva. Criou a sua numerosa família com as dificuldades normais. É a prova de que a mãe sempre agrega os filhos. Em pouco prazo aqueles mais velhos vão crescendo e auxiliando nos trabalhos do dia a dia e as dificuldades são pulverizadas e, consequentemente, amenizadas. Naturalmente os filhos foram se casando, criando seus filhos, aumentando a família, resultando em um número significativo de netos e bisnetos. Formou-se uma grande família. Pessoas humildes, honradas, respeitadas e queridas na nossa comunidade.Pelo menos dois netos de D. Lorica se se destacaram na Política. Adevânio Tavares da Silva e Léo Mariano da Silva ocuparam uma cadeira na câmara municipal de vazante, tendo desempenhado com honestidade e um bom trabalho os seus respectivos mandatos, honrando o nome da família Tavares. Aliás, o Léo mariano ainda ocupa uma cadeira no legislativo municipal nesta legislatura. Muitos netos são formados em diversos cursos superiores, destacando a Dra. Rosimeire Tavares da silva, minha colega advogada e atualmente exercendo com eficiência o cargo de oficial do cartório do segundo ofício de notas da comarca de vazante.Dona lorica foi responsável pelo nascimento de centenas de pequenos lapeiros e vazantinos. Foram longas décadas prestando este importante serviço às parturientes não só de vazante, como de toda a região. Ofício que veio com ela da área rural onde morava anteriormente.

Na minha família mesmo, ela foi quem colheu a minha primeira filha, Tânia Cristina Guimarães de Melo, nos idos de 1.966 e o meu último filho, Júlio Vernec Guimarães Borges de melo, nos idos de 1.970. Como a gente pode esquecer uma pessoa dessas?!!! Ela que era tão amável, solícita, e que prestava esses serviços de forma gratuita, tão somente para servir...

Responsável como sempre ao ofício, ficava com os seus instrumentos de trabalhos prontinhos, devidamente higienizados, cada coisa no seu devido lugar, pois a qualquer momento surgiria algum pai apressado para levá-la a alguma casa da cidade, ou da zona rural. Mais uma vidinha ela traria ao mundo.Lembro-me, quando chegou o nosso primeiro médico para vazante, ele não interferiu nos trabalhos das parteiras. Ele sabia que no decorrer do tempo às pessoas passariam a procurá-lo. Era uma substituição natural. Vez ou outra D. Lorica se deparava com um parto supostamente prematuro. 

 “Mal mal completaram seis meses de casamento e a desinfeliz entrou em trabalho de parto”. Era o que dizia a mãe, no caso futura avó, entrando  em pânico. Será que a menina vai perder o primeiro filho, assim de forma tão desastrosa! Não pode! É o meu primeiro neto! Poucos meses de casados...Corriam atrás da D. Lorica, que chegava com aquele seu jeito calmo, indiferente. Já se acostumara tanto com o ofício, que um parto a mais, enfrentaria com naturalidade. Examinava a parturiente e concluía mentalmente, tudo em ordem. E o parto evoluía. A criança está na posição normal, às contrações também. Músculos e pélvis devidamente dilatados. Abertura da entrada do útero, normal...Ela não gostava da presença dos familiares, que em nada auxiliavam. Só atrapalhavam. Presenças estranhas tira a concentração da parturiente e da parteira. No máximo o pai, para transmitir confiança à companheira.Daí a pouco a criança chorou. Nasceu forte, sadia. Com as mãos, D. Lorica avalia o peso. Tudo normal.Entra os avós todos ansiosos pra conhecer o primeiro neto e saber da saúde da criança. A mãe faz a pergunta já aguardada. É fora do tempo, dona Lorica? Ela toda compenetrada no que está fazendo, com as mãos ensanguentadas e ainda sujas de resto de placenta, cordão umbilical e tudo o mais, responde sem nem olhar pros lados da avó. Não, senhora. O casamento é que foi!...Não há decepção nenhuma pelo fato de a filha ter se engravidado antes de se casar, pois o neto apaga todos e quaisquer atos desagradáveis naquele momento.D. Lorica enfrentou partos difíceis. Alguns gêmeos. Alguns defeituosos. Mas trigêmeos, não.Além das técnicas usadas, da experiência colocada a favor das futuras mamães, ainda eram lançadas mãos de diversos outros artifícios em seus favores, caso necessários. Era o caso das simpatias, comumente utilizadas. Muitos não acreditavam, mas funcionava, sim.Houve um parto que marcou bastante.Numa tarde, já descambando para o por do sol, surge na sua casa um mensageiro apressado. Vinha buscá-la, urgentemente, para dar assistência a uma parturiente no meio rural. Embarcou no jipe do fazendeiro e lá se foram.Chegando à fazenda, imediatamente ela examinou a parturiente. Era uma moça, com os seus vinte anos de idade, no máximo. Estava há dois dias em trabalho de parto e não conseguia dar à luz a sua criança. A pobre coitada gemia sumida dentro da cama. Toda suada e já sem forças lamuriava fracamente.D. Lorica foi conversando com a moça. Muito prática, aconselhava as mudanças de posição, mostrando pra ela que tudo daria certo, era só questão de mais alguns minutos. Mas ela via não ser tão fácil assim. Tinha tudo pra ser daqueles partos encrencados. A criança estava ligeiramente fora de posição, mas não via dificuldade pra endireitá-la. Músculos e pélvis naturalmente dilatados. Mas a criança não nascia.Enquanto tomava um café quente que lhe foi servido, ela aproveitou para indagar dos patrões da moça, quem era o pai da criança. Foi quando tomou ciência do enigma. A moça não contava de jeito nenhum, pra ninguém, quem seria o pai daquela criança. Normalmente a patroa era a confidente natural da menina, mas não conseguiu por lei nenhuma tirar dela aquele segredo. Ela não era namoradeira. Quietinha em casa. Cuidadeira da obrigação...D. Lorica, voltou pro quarto preocupada com aquela moça. Era preciso conhecer o seu segredo. Afinal a criança iria nascer e todos queriam saber quem era o pai. Mesmo porque, para fazer face às dificuldades daquele nascimento, o pai era imprescindível. Sempre ajuda.E o parto prolongava. Antes de anoitecer, a situação era delicada.  D. Lorica deu de entrar em desespero, o que não lhe acontecia facilmente. Já tinha usado todos os meios de que dispunha e não dava resultado. O jeito era lançar mãos de algumas simpatias, que às vezes dão certos.Foi quando se lembrou de uma que era sui generis, e caia como uma luva nesse caso.D. Lorica então disse pra moça. Olha a seu parto está bem difícil. Já se vão quase três dias de sofrimento e a criança não nasce. Um dos fatores que está colaborando para que isto aconteça é a falta da presença do pai da criança. (ela não tinha dito pra ela que sabia da teimosia dela em não revelar quem seria o pai).  É necessário que ele venha aqui urgente. Só assim você se salvará e salvará a sua criança. A presença dele te ajudará bastante.A moça balançou nas suas convicções, mas teimava em não revelar quem era o pai da sua criança. Era segredo e tinha de assim permanecer. Jamais poderá revelar o nome dessa pessoa. Era impossível...D. Lorica, sempre jeitosa, foi convincente e jurou pra menina, em honra da sua profissão de parteira, que tinha uma simpatia que assim que fosse colocada em prática, a criança nasceria e o segredo ficaria entre as duas. Consistia em saírem pro lado de fora da casa e ela, a parturiente, daria três pulos pra cima e gritaria o nome desse pai. Assim procedendo é certeza que a criança desembuchará e tudo vai dar certo. E ficará em segredo.A moça ficou reticente, mas a garantia de que ficaria somente entre elas duas e o medo da morte dela e da criança, a convenceu. Foram ambas pro lado de fora da casa e a simpatia foi feita. A moça pulava pra cima e gritava: ôôôôhhh, fulano!!! Chamava o nome do pai da criança. Tornava a pular e a gritar o nome. Depois dos três pulos e três gritos voltaram pro quarto. Tiveram de andar meio depressa. Foi o prazo de a menina deitar na cama e a criança nasceu. Um meninão forte e sadio. Decerto que a caminhada e os pulos pra cima endireitaram essa criança dentro do útero e ela veio a nascer .Até hoje não se sabe como, mas o nome do pai da criança tornou-se conhecido. D. Lorica jurava por deus que da sua boca não saiu nada. Mas todos ficaram sabendo que o pai daquela criança era o patrão dela...D. Lorica deixou muitas saudades para a sua numerosa família, que além de filhos, filhas, genros, noras, netos e bisnetos, somam-se ainda um sem número de outros que a consideram também como mãe, inclusive os meus dois filhos já mencionados...


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