ANTÔNIO PATO e CHORA MORENA--COMEDIANTES NATOS E AMIGOS INSEPARAVÉIS























Eram as cidades próximas um pouco VAZANTE a partir da década de 60, começou a atrair pessoas para trabalhar na mineração, naqueles tempos ainda incipiente.
NÓS os vazantinos, os chamados Lapeiros, éramos um povo de pouca instrução e sem profissão definida. A maioria gente honesta, inteligente, mas o que sabia fazer era trabalhar na lavoura, na lida de gado, carpintaria, tocar um carro de boi e, lá por caso, um ou outro era um pedreiro, um ferreiro...
E a Empresa mineradora começou a necessitar de alguns tipos de profissionais, que tiveram de ser  contratados na região. Vieram muitos de Patos de Minas, Paracatu, Coromandel, Patrocínio...mais evoluídas e, por isso, forneceram muitos operários mais classificados para a mineradora. Muitos vieram de Belo Horizonte, ou transferidos pela própria Empresa de outras filiais espalhadas no País. Das demais cidades próximas vieram muitas pessoas, mais para trabalhar em serviços gerais, também sem qualificação profissional, o que não as impediu, como ocorreu com os vazantinos, de aprender variadas profissões e aqui adotarem como a segunda Terra. Veio gente de Presidente Olegário, Lagamar, aqui incluindo os São Braseiros, formando aqui em Vazante uma das maiores colônias fora daquele Distrito. Enfim vieram pessoas das mais variadas cidades, aqui se casaram, criaram suas famílias e hoje se consideram vazantinos como qualquer um dos nativos.

UM FATO há de ser registrado. Vocês notaram que foram relacionadas todas as cidades aqui da região e, a mais próxima, não foi mencionada: Guarda Mor. Cidade irmã, foi distrito de Vazante desde a criação do nosso município, que se deu em l.953, até a sua emancipação política em 1.963. Não me lembro de nenhum Guardamorense que para Vazante migrou em busca de serviços e aqui firmasse morada e criasse família. A única explicação que eu encontro para esse fenômeno é a lembrança macabra que restou do  episódio da emancipação política de Vazante, que ficou com a sede do município, quando na verdade teria de ser em Guarda Mor,  que tinha na época muitas vezes melhores condições para tal, conforme  já relatei esses detalhes na história da emancipação política de Vazante
HOJE, episódio superado. Guarda Mor,  se transformou no orgulho de todos nós da região. É um dos maiores produtores de grãos dos nosso Estado. A cidade é próspera, goza de grande progresso, para a alegria da sua gente.
MAS VAMOS ao que interessa. Nessa leva de gente que migrou para Vazante, vieram dois que marcaram época. Além de profissionais respeitados nas suas respectivas áreas, conseguiram se distinguir e marcar época com a alegria contagiante que proporcionavam onde eles estivessem. Era ANTÔNIO PATO e CHORA MORENA. Quem os conheceram, jamais deles se esqueceram. Juntos ou isoladamente eles eram verdadeiros humoristas natos, que não faziam a menor força para se tornarem hilários e fazer todos que estivessem em sua volta cair na gargalhada. Quando os dois juntos, então... Era uma comédia.
ANTÔNIO PATO, antes de ser um cômico por natureza era um dos melhores eletricistas que conheci. Foi ele o responsável pela distribuição elétrica da primeira usina de mineração da Companhia Mineira de Metais. Todos os autos fornos tiveram as suas instalações elétricas instalada por ele e ou sob a sua orientação.
CHORA MORENA, por seu turno era um mecânico de reconhecida qualidade, sendo por longos anos quem dava manutenção em todos os autos da Companhia Mineira de Metais, sem que tenha em momento algum falhado nos seus trabalhos.
NAQUELES bons tempos, gastava-se bem umas três horas de jardineira de Vazante à Patos de Minas. Era só uma corrida por dia, saindo de Vazante às seis horas da manhã e retornando de Patos às duas horas da tarde. Tempo suficiente para quem necessitasse de” ir até a cidade”, como diziam, cumprir as suas necessidades, ir ao médico, fazer compras, visitar algum parente e embarcar de novo naquela jardineira, exalando forte odor de gasolina, o que era o grande problema para a maioria dos usuários. Muitos enjoavam o estômago só de aproximar do veículo.
O TRECHO mais detestado por todos era de Vazante até Lagamar e vice-versa. Estrada tortuosa, muito sobe e desce, exigindo mais do motor da velha jardineira, que por essa razão exala maior volume de fumaça e aquele cheiro forte invadindo o interior do veículo, causando um grande mal-estar aos passageiros, principalmente os menos acostumados ao uso daquele tipo de condução.
NUMA manhã quente e ensolarada, embarcam os dois, o Chora Morena e Antônio Pato, indo pra Patos, terra natal dos dois, resolverem algumas pendengas lá deles e visitarem parentes. A Jardineira como sempre lotada de passageiros. Gente de todo tipo, uns mais traquejados naquelas viagens, outros menos e alguns até estreantes. O ambiente estava do jeito que eles queriam para o que previamente haviam planejado. Como diziam: “do jeito que o diabo gosta!”
O PONTO de partida era na porta da Pensão da Maria Lúcia, antiga pensão da D. Isaura. Ali, já tinha embarcado mais da metade dos passageiros e o restante eram pegos no decorrer do trecho. Descia passando pelos Pamploneiros, chegando até a ponte do rio, indo em rumo à Mata Preta. Contornando esta até chegar na descida do João do Júlio, onde iniciam os sobes e descem, locais mais críticos para as pessoas que sofrem com os enjoos.
QUANDO a Jardineira empinou, ganhando a serra mais forte do Indaiazinho, o Gote, motorista experiente, que fazia o trecho todos os dias, engrenou nela a primeira marcha e a bicha subiu roncando serra acima, aumentando consideravelmente o cheiro forte da gasolina dentro da embarcação. Os passageiros já começavam dar sinais de que não estavam confortavelmente bem.
 NESTE  momento eles já  deram início  ao que haviam planejado.
NESSA ÉPOCA, não sei se até hoje ainda existe essa precaução, eram fornecidos em cada assento uma certa quantidade de saquinhos de papel grosso para serem utilizados em caso de fase aguda de enjoo, onde o passageiro pudesse vomitar sem ter que interromper a viagem. Enchia-os de vomitados e os jogavam pela janela, emplastando todas as laterais da Jardineira e aumentando o fedor azedo do lado de dentro, atiçando ainda mais a vontade de vomitar. Formava-se um ciclo vicioso...
DE POSSE desses saquinhos o Antônio Pato fazia vômitos bem acentuados, chamando a atenção para serem ouvidos dentro do veículo, desde a frente até ao fundo. E, para que todos vissem ele se levantava e fingia estar vomitando dentro do saquinho e ele entregava o invólucro fechado pelas pontas para o Chora Morena, fazendo sinal que o jogasse para fora. Imediatamente o Chora se levantava e, ao invés de jogá-lo fora, metia a mão dentro dele e comia o que lá estava. Era uma mistura de comida que trouxeram de casa: arroz, feijão, macarrão... E ele comia aquilo na maior falta de educação, sujando o rosto e mostrando para todos o que estaria fazendo... A cena se repetia na medida em que a Jardineira subia e descia naquele trecho tortuoso...
             NÃO FICOU UM SÓ DENTRO DA JARDINEIRA QUE NÃO TIVESSE VOMITADO ATÉ AS TRIPAS!!!

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