PROFESSOR.......UM GRANDE COMEÇO
foto Ilustrativa |
Retornei de Brasília no ano de 1.972, o mesmo ano
em que tinha ido para dar continuidade aos meus estudos.
COM a posse do Prefeito, Hélio Pereira Guimarães,
no ano de 1.973, reassumi a minha função pública e fui nomeado Assessor de
Gabinete do Prefeito. Cargo que corresponde hoje a Secretário de Administração.
Neste mesmo ano fiz vestibular na FAFIPA(Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Patos de Minas), para o curso de Matemática, cuja matéria passei a ministrar aulas no Ginásio Estadual e nos Cursos de Magistério e de Contabilidade municipal. Era o meio de complementar o meu salário – hoje eles encontram outros meios -.
POSSO dizer sem nenhuma modéstia, que tive o maior
êxito naquela função, mesmo porque eu gostava demais de dar aulas e tive ótimos
professores, tanto em Vazante, Dr Argemiro Ianhez, como no Curso Objetivo, em
Brasília, onde estudei para prestar as provas do Supletivo de segundo grau.
Era muita responsabilidade pra mim, que há pouco
mais de um ano era um semianalfabeto, me transformar de repente em um professor
de matéria tão importante.
Como sempre fui crente em Deus, nele me agarrei e
parti para as minhas aulas. Inicialmente tive uma pequena divergência com
alguns alunos, no tocante a disciplina. Eles vinham mal-acostumados em alguns
aspectos. Para exemplificar esses alunos que mencionei tinham o costume de
ficarem fora da sala e irem chegando aos poucos, após o início das aulas. Isso,
além de prejudicar o aprendizado deles, refletia também nos demais colegas. No
primeiro dia eu avisei a todos de que não permitiria tal comportamento. Em aula
minha quem chega por último é o Professor! Deixei bem claro. Ainda assim tive
de deixar uns dois ou três do lado de fora em algumas aulas seguintes ao aviso.
Mas, logo se acostumaram. Quando eu entrava na sala de aula lá estavam os
quarenta alunos me aguardando,
Encarei com uma certa sabedoria o bicho papão da
Matemática. Inicialmente fiz o que deveriam fazer todos os mestres (às vezes
faziam ou fazem e eu não sabia), que era melhorar o astral dos alunos,
fazendo-os crer nas suas reais capacidades de aprendizado. Pois fiquei sabendo
que eles eram taxados de burros, ignorantes, e outros termos pejorativos,
quando não compreendiam a matéria que lhes era ministrada. Expliquei que era
normal a pessoa não aprender na primeira exposição da matéria e que, na segunda
ou terceira, se necessário, todos sairão da sala de aula podendo até ser
professor. Me colocava na mesma posição deles, dizendo estar ali para juntos
aprendermos as matérias e que eu havia estudado a noite toda para melhor tentar
repassar a eles o que havia aprendido. Não me mostrava sabichão.
Com jeito fui me colocando no mesmo nível deles e
ganhando a confiança e amizade de cada um. Compreendi rapidamente o perfil e a
capacidade individual de aprendizado. Uns, captavam a matéria na primeira
explicação; outros, ficavam em dúvidas; outros, nada aprendiam... E,
interessante que, após a explicação da matéria, a gente indagava deles: -
entenderam? Mecanicamente respondiam: - entendemos!!! Mas eu notava que uma boa
parte nada tinha assimilado. E dizia calmamente que podiam dizer que não haviam
entendido. Eu explicaria outras vezes se necessário, até que todos tivessem
conseguido entender. Em pouco prazo foram perdendo o vexame de revelar a
verdade e facilitava mais o aprendizado.
A Matematica era um bicho de sete cabeças. Quando
entrava na parte algébrica, ou seja, quando letras passassem a valer números,
era um Deus nos acuda! Se não tivesse uma certa habilidade você poderia correr
com o aluno e até promover a sua desistência da escola.
Recordo-me que, quando ia iniciar os ensinamentos
algébricos, criei uma historinha ilustrativa para melhor adentrar naquela
importante área da Matemática.
Todos nós sabemos que o ser humano e de modo
especial às pessoas novas, fixam melhor a atenção naquilo que lhes interessam.
Se falar de futebol, sabem os nomes dos jogadores de cada posição. Se falar de
Filmes, descrevem com rara perfeição as passagens interessantes do filme, o
roteiro, etc. e, assim por diante. Mas quando estão nos bancos escolares sempre
questionam: - pra que estão ensinando isso ou aquilo? Pra que que isso
serve? Visto por um ângulo eles até têm razão. Às vezes falta ao educador
a habilidade de fazer o aluno vislumbrar o porquê daquele ensinamento
específico. Onde será empregado na prática?
Dito isto, antes de adentrar na álgebra
propriamente dita, que a gente sabia por antecedência a confusão mental que
provocaria ao dar valor numérico às letras, eu contava uma estorinha, mais ou
menos assim: “Um gavião baixou num terreiro onde tinha certa quantidade de
pombas. Aterrissou todo garboso e foi logo as cumprimentando: - Como vão minhas
cem pombas? Uma delas respondeu: - Cem pombas seríamos nós, se fôssemos outro
tanto de nós, mais a metade de nós, mais uma quarta parte de nós e mais você,
Gavião.” Com certeza o gavião ficou baratinado com a resposta e ficou sem saber
o número de pombas ali existentes.
Pois bem. Partíamos em busca de um número que
pudesse bater com a exata quantidade de pombas. Chutava-se um número qualquer,
por exemplo, quarenta. Concluía-se, rapidamente, que não era. Pois, quarenta
mais quarenta são oitenta; mais a metade de quarenta, que são vinte, já chega
aos cem. Teria de ser um número menor. Experimentava outro um pouco menor, que
também não fechava.
Para ser mais rápido o número de pombas existentes
seriam trinta e seis. Fazendo a operação: 36 + 36 = 72 + 18(metade de 36) +
9(um quarto de 36) +1 (o gavião) = 100
Por tentativa achava-se o número. Mais então eu
explicava ser impossível todas as vezes que deparássemos com um
enigma mais complexo do que esse, tivesse de ficar buscando alternativas até
acertar o número desejado. Seria melhor se transformássemos o problema numa
sentença algébrica, que assim ficaria: Cem pombas seríamos nós (X), mais outro
tanto de nós, (outro X).mais a metade de nós(l/2 X), mais uma quarta parte de
nós(1/4X) e mais você Gavião(+1). Daí seguia o raciocínio lentamente, montando
a Sentença Algébrica: X+X+1/2X+1/4X+1 = 100. Pois bem, a gente procura o
maior divisor comum entre dois e quatro, encontra-se o valor quatro. Daí
multiplica-se tudo por quatro, encontram- se os seguintes valores: 11 X + 4 =
400. Passa o quatro pro outro lado, com o sinal inverso, ou seja, de menos,
resta a sentença: 11 X = 400 – 4 = 396. Dividindo-se 396 por 11, chega-se ao
número das pombas que é igual a 36.
ERA um encanto geral. Não há de ver que as
letrinhas de fato ajudam! Com essa explicação e mostrando que não é em vão o
uso da álgebra na Matemática, os alunos interessavam e a partir dali eles
mesmos diziam: “mamão com açúcar”...
De lambugem, embora não fosse da minha
matéria, eu deixava uma frase em Português para consertarem para o outro
dia, com o objetivo de mostrar a eles que a pequenina vírgula também tem muita
utilidade. A frase é a seguinte: “Um fazendeiro tinha um bezerro e a mãe do
fazendeiro também era o pai do bezerro.”
PARECE um monstrengo, mas com apenas o uso de uma
vírgula a frase toma sentido.
Meus ex alunos e alunas, manifestem...
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