JOÃO SEABRA e BALTAZAR CURIANGO, VELHOS GUERREIROS...




Hoje transitamos pelas rodovias asfaltadas e relativamente conservadas, nos ligando as cidades próximas e, por consequência, às capitais, federal e estadual. As pessoas mais novas, principalmente aquelas nascidas a vinte, trinta anos atrás, não tem a menor ideia do que enfrentávamos para nos deslocar-nos mesmos trajetos retro mencionados. E, mais ainda, quando retrocedemos há uns quarenta, cinquenta anos, então... Nem é bom de lembrar. Quando você diz que uma viagem de Vazante a Patos, Paracatu, ou Coromandel – cidades equidistantes de Vazante -, a gente levava um mínimo de quatro horas, pode levar a pecha de mentiroso. Mas, tem ainda de considerar os imprevistos, que poderiam atrasar bem mais a viagem.

O que seriam esses imprevistos. Principalmente no período chuvoso, era muito comum você encontrar algum outro herói caminhoneiro com seu caminhão atolado até os eixos, sendo arrastadas por umas quatro juntas de bois, cedidos por um bondoso fazendeiro sediado na margem da rodovia. Podia também se deparar com uma ponte quebrada e, como recurso, algum desvio ali próximo, tendo às vezes que fazer um longo percurso para ganhar novamente a estrada rodageira, como era chamada.

 Que o digam João Seabra Guimarães e Baltazar curiango. João Seabra, natural de Patos de minas, veio pra Vazante ainda jovem. Chegou dirigindo uma jardineira do expresso leãozinho, que fazia a linha Vazante a Patos, Vazante a Coromandel e Retiro da Roça a Coromandel. Mas a linha mais complicada era Vazante a Paracatu, cujo itinerário constava a vila de Vazamór e dali, morro agudo, Paracatu. Era uma estrada cheia de empecilhos, seja nas águas ou não. No período chuvoso tinha as mesmas complicações já ditas. Atoleiros em vários trechos, sendo necessários os socorros primários dos bois de carro. Inicialmente não tinha como ir e retornar no mesmo dia. Depois, com melhoramentos nas estradas passou a ter o retorno no mesmo dia.




Há de ser relembrado que bem antes disso o Adolfo já fazia esse percurso, que era bem mais prolongado. Saia de Coromandel e ia até o Paracatu. Era praticamente um dia de viagem naquelas péssimas estradas sem nenhuma manutenção.


O usuário não tinha alternativa. Ou enfrentava essa condução ou ficava sem viajar. Foram longos anos que o João Seabra enfrentou essas dificuldades transportando os passageiros com as suas galinhas, papagaios e até porcos, segundo ele dizia.


João Seabra nessa labuta do dia a dia, conheceu aquela que viria a ser a sua esposa. A jovem Valdemira Teles, que morava na fazenda do seu pai, na região de Vazamor. Usuária da jardineira veio a ser a sua esposa. Desse casamento tiveram os filhos: Pedro Seabra, Paulinho Seabra e Marcos Seabra. Família linda e da minha mais plena amizade.

Mais  adiante, com os tropeços da vida, o casal veio a se separar e  João Seabra conviveu por longos anos com a sua segunda companheira, Ironides Pereira dos Santos, a Nega, com quem conviveu até o dia que deus o levou.

 Foram muitos anos que tive presença constante naquela residência, onde passávamos longas horas de laser jogando cartas e saboreando os biscoitos e quitutes da prendada Nega.


Baltazar José de Souza, mais conhecido por Baltazar curiango. Nascido na cidade de Patos de Minas, veio pra Vazante, em 1.971. Aqui se casou com Fátima Maria Cavalcante e tiveram um casal de filhos, Emerson Cavalcante de Souza e Angélica Celuta Cavalcante de Souza. A sua esposa é filha do primeiro prefeito de vazante, Valdemar Cavalcante, o querido, Glofo.


Enfrentou, também, uma dificuldade extrema, porém em outra linha de transportes. Ele conduzia caminhões de minério da Cia. Mineira de metais para Três Marias, passando pelas mesmas dificuldades de estradas de terras malconservadas, com os mesmos atoleiros e obstáculos, transportando pesadas cargas de minério de zinco.


Inexistia asfalto antes de ganhar a BR 040. Inicialmente tinha de passar por Paracatu, dali trafegar pela BR, passando próxima a margem esquerda do rio escuro, deixando na outra margem o município de Vazante. Daí a João Pinheiro e o destino final da carga, Três Marias. Esse percurso era de aproximadamente trezentos e cinquenta quilômetros. Diminuía alguma coisa ao retornar, passando por Lagoa Grande, por uma estradinha municipal.   Alguns anos depois, nos idos de 1.974/75, no excepcional mandato do prefeito Hélio Pereira Guimarães, quando conseguimos implantar a LMG 706, e a construção da ponte sobre o Rio Escuro, a distância foi suprimida em setenta quilômetros, ficando em torno de duzentos e oitenta quilômetros;


Mas o que importa é que o Baltazar curiango fazia esse trajeto de ida e volta todos os dias da semana. Conforme o jargão dos caminhoneiros, “ele dormia carregado” e saia de madrugada, retornando à tarde até a empresa, onde tornava a carregar. Isso durou cerca de uns trinta anos consecutivos, até se aposentar. Duvido que nos dias de hoje, mesmo com as estradas asfaltadas, ainda tenha quem consiga essa façanha por tanto tempo.


A jornada do João Seabra era menos solitária.


O caminhoneiro tem uma jornada muito só, mas o curiango se acostumou tanto que nunca reclamou. Naturalmente que ele tem muitas passagens interessantes nesse incessante vai e vem, mas ele é uma pessoa introvertida, pouca conversa. Se teve guardou para si. Mas eu, particularmente, admiro muito o feito desse guerreiro, pois não é fácil e nem é para qualquer vivente o que ele enfrentou e conseguiu fazer nessas décadas no volante do seu possante.

João Seabra viveu momentos muito interessantes nas suas idas e vindas, mas a que mais lhe marcou foi o dia em que uma senhora foi embarcar na sua jardineira, num dos pontos de parada do meio rural. Era ela e uma moça, que depois veio, a saber, ser sua filha.

Era muito comum as pessoas desacostumadas com as viagens, como diziam, em carro de gasolina, sofrerem perturbações estomacais, culminando com vomitações e aquele desconforto posterior. Suor frio, languidez do corpo e até mesmo um sono profundo.

Mas naquele dia as duas embarcaram e a jardineira tinha rompido uns poucos quilômetros e a moça já começou a dar vômitos e não teve jeito, vomitou bastante. E, quando o passageiro começava a passar mal dos vômitos, se não interrompesse, o motorista calmamente parava a jardineira e procurava dar algum tipo de socorro.

O João Seabra , preocupado com aquele estado da moça, freou o carro, estacionou e indagou da senhora sua mãe:  -foi comida? Se  referindo a alguma comida que tenha lhe causado alguma indisposição estomacal.

A mulher respondeu rispidamente: - foi. Mas ocê não tem nada com isso não. Ela vai casar... Tô indo pra cidade mode tirar os nomes!...

Ele entendeu na hora. Daí a alguns meses, casada ou não a criança deve de ter vindo ao mundo...

João Seabra, meu grande amigo, deus levou...

Baltazar José de Souza está entre nós, gozando da sua aposentadoria e se escondendo do coronavirus...


Não sei qual dos dois merece a estátua maior...

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