TIÃO LEANDRO, O MARVADO!!!

Numa tarde calorenta, já beirando o sol poente, eu viajava a cavalo da fazenda que pertencia ao meu amigo José Alves Ferreira, o Juca da Odília, na região do Brejo Grande, indo em direção à fazenda Salobo, onde pretendia pernoitar. Eu fazia esse trajeto periodicamente, buscando receber para o meu pai as notinhas de medicamentos que ele vendia para todos os seus fregueses na sua farmácia. A ordem era comprar de tudo, porco, galinha, arroz, feijão... Modos de facilitar o pagamento e o recebimento. E assim eu fazia.
Quando eu rompia um lançante de terra vermelha, já se aproximando de um morrinho cascalhado, me encontrei com um rapazinho que vinha em direção oposta a minha. Ele trazia na cabeça dos arreios uma pasta com papeis e um enorme sorriso no rosto.
Boa tarde pra cá, boa tarde pra lá e ele foi parando o seu cavalo e levando a perna por cima da sela, dando sinal que pretendia trocar umas palavras.
De imediato, agradei dele. Além de ser dessas pessoas que irradia confiança na primeira vista, era muito solícito, espontâneo e de uma simpatia contagiante.
Indagou de mim quem eu era e o que fazia praquelas bandas? 
Naqueles tempos não tínhamos o hábito de desconfiar das pessoas e fui logo dizendo a ele o meu nome, de quem era filho e o que me trazia ali na região.
“Ele abriu um largo sorriso e aproximou mais o seu cavalo para perto da minha montaria e me disse de uma maneira tão especial, que nunca mais me esqueci.” Então você é filho do meu padrinho Oscar?  Oscar de Melo, o farmacêutico?”Eu confirmei, e daí a conversa prolongou”. Quando dei fé a tarde tinha ido e já começava a ficar lusco fusco.
ERA o SEBASTIÃO VIEIRA BORGES, para quem não sabe, o TIÃO LEANDRO, O MARVADO...
Como entardecia e eu não tinha ainda passado naquela estrada, disse a ele da necessidade de, por esse motivo, pegar a estrada. Então ele me disse que ia só dar uma chegadinha ligeira na fazenda do Juca, que estava a distância de grito e voltaria comigo lá para o Salobo. Além de evitar o perigo de ficar perdido, ainda tínhamos a oportunidade de ir conversando.
Normalmente eu saía de casa de manhã, ia passando de freguês em freguês ao longo da estrada, solucionando as pendências do meu pai, e fazia o pião na fazenda do meu inestimável amigo, SEBASTIÃO ALVES FERREIRA, o Tião da Odília, a cuja pessoa dedico um especial carinho. Dalí eu traçava os trajetos ao derredor e á tarde, ou de noite, retornava para o pernoite ali no Tião da Odília. Saudades da Marieta, que me tratava com tanto carinho...
Nesta tarde conheci a pessoa mais interessante e confesso que jamais vi outra igual. Duvido que alguém que tenha tido contato com o Tião Leandro que não diga a mesma coisa. Pessoa extremamente caridosa. Era daqueles que tirava o prato da boca para matar a fome de alguém. Pai extremado. Tinha um amor do tamanho do seu coração pela família: mulher e filhas. Ele não teve um filho varão. Era esse o seu maior desejo. Não tirava o nome dos pais da sua boca. Amava os irmãos, irmãs e sobrinhos. Aos amigos dedicava muito carinho e confiança.
Quando o conheci, carregando aquela pasta na cabeça dos arreios, em razão do tempo não me lembro se ele era professor rural, ou um recenseador. Sei que ele prestava algum tipo de serviços para o município. E, se não for engano, ainda morava com os seus pais, ali na região do Salobo.
O tempo passou e fui conviver com o Tião Leandro quando ele morava em Vazamór. Nessa época ele já estava metido em negócios, comprando e vendendo gado, cavalos e até fazendas. Tornou-se um negociante de mão cheia.  Eu ia sempre na casa dele com o Baiano, ou com o Josmar (Ném) que também eram envolvidos neste tipo de negócios. Ali era uma recepção das melhores. A alegria reinava em seu rosto, demonstrando satisfação em rever os amigos. 
JÁ tinha esposa, Nair e as filhas, Delma, Délcia,Deleuza e Deuzelita, que era a alegria da sua casa. A Nair, por ela e pelo marido que tinha, foi sempre muito amistosa, demonstrava satisfação em nos receber na sua residência. Prontamente nos convidava para o almoço ou jantar, dependendo da hora. Servia-nos o café com biscoitos. Enfim fazia o papel de uma dona de casa exemplar.
Depois de um certo tempo mudou-se com a família para Vazante, onde foi proprietário de três Hotéis, o Nacional  o Sertanejo e o Belo Sono. Em qualquer deles era comum o Tião Leandro acomodar pessoas doentes, muitas vezes carentes, sem dinheiro para a hospedagem, mas ele dizia que pudesse ali permanecer até melhorar e ir pra casa. Sem contar que na maioria das vezes ele custeava também o tratamento médico daquela pessoa. Era uma alma diferenciada de verdade. 
O TIÃO LEANDRO, Tião pelo Sebastião e Leandro, pelo pai, Seu Leandro, de quem herdou todo aquele carinho para com as pessoas, pois Seu Leandro era também extremamente carinhoso e de sorriso largo, especial.
Ele se fez um homem muito conhecido na região. Gozava de um crédito excepcional. Comprava gado em todas as fazendas da região, se não pudesse pagar á vista, tinha prazo avençado e cumpria rigorosamente. O seu acesso era livre em todas as casas, pois homem respeitador e de confiança geral.


Com todos esses predicados, foi logo atraído para a política. Na legislatura 1.973/77, no período de maior progresso, na Administração Hélio Pereira Guimarães, foi eleito Vereador, representando a região de Vazamór. Era companheiro de todas as horas, acompanhando os amigos, apoiando os candidatos a Prefeito, Deputados e Governadores, seja perdendo ou ganhando eleições. Contava com satisfação o dia em que esteve com o Governador de Minas, Francelino Pereira, ao qual fez rasgados elogios e dele recebendo a mesma coisa. 
Trouxe de berço uma criação e educação na fé de Cristo, cujo nome estava sempre pronunciando. Era de família evangélica da Assembleia de Deus. 
Além de muitos atributos, Tião Leandro tinha um especial. Era o maior MARQUETEIRO, que conheci. Sei que ele nem sabia o que era um marqueteiro, mas ele, de nascença, era um de primeira. Tanto que isso é verdade, que todas as pessoas de uma vasta região aqui em torno, se falar no seu nome, o conheceu. Ele não pronunciava três palavras sem dizer o próprio nome. Isso assim, assim, oh!, o Tião Leandro... Tião Leandro praqui, Tião Leandro pracolá e seu nome ficou gravado na mente de todos. Também tinha o hábito de chamar todas as pessoas de Marvado. Era Marvado, Marvada, Marvadinho, Marvadinha... Tanto que passou a ser cognominado também de Marvado.
Foram muitas as passagens de marketing do Tião, mas uma que marcou muito e ficou na história, foi a que aconteceu envolvendo-o e o Borginho, pai do Arquimedes Borges e da minha saudosa Colega, Maria Lúcia Borges. 
Período seco, pouco gado gordo e a procura era grande. Borginho, fazendeiro abastado na região do Morro Agudo, tinha lá as suas cem vacas gordas para serem comercializadas. Tião Leandro ficou sabendo e bateu pra lá junto com o Baiano. Foram como sempre bem recebidos pelo fazendeiro, tomaram o café costumeiro e deram início ao assunto que lhes interessavam: as vacas gordas do Borginho.
De mansinho, como sabia fazer, foi bulindo no assunto, até dizer ao Borginho do seu interesse na aquisição das vacas gordas que ele tinha.
Qual decepção deles . Borginho , muito pesaroso , disse a eles que tinha mesmo as vacas, mas ontem tinha firmado trato com outro comprador que viria amanhã ver as vacas para negócio.
Tião leandro não demonstrou nenhum pesar e nem um pingo de decepção. O Baiano deu o negócio como perdido. Continuaram a conversa e o Tião viu no braço do Borginho que ele não tinha um relógio de pulso. Num ímpeto ele tirou o seu relógio novinho, recém adquirido lá em Patos de Minas e tomou o braço do fazendeiro e colocou nele o seu relógio, dizendo: “onde já se viu um merda como um Tião Leandro, com um relógio bom no pulso e um Borginho desses, sem relógio!!!” Borginho relutava em receber a dádiva, mas o Tião Leandro insistiu e deu o relógio de presente para o Borginho.
Dali saíram e o Baiano perplexo diante daquela atitude do companheiro.  Daí a dois dias o Tião Leandro chamou o Baiano e lhe disse que recebeu um recado do Borginho para que fossem lá no Morro Agudo para negociarem as vacas.
Ninguém sabe quantos relógios eles ganharam com essa belíssima jogada de marketing do Marvado...
A morte não perdoa. Inesperadamente veio e levou o Marvado. Foi uma surpresa geral. Não tinha doenças, pelo menos conhecidas. Mas ela o levou assim mesmo.
Restou a saudade, ficando a viúva e as filhas e uma família numerosa, composta por gente da melhor qualidade que em Vazante residem e são honradas com o nome que ele deixou como legado. Sem contar um sem número de amigos que dele nunca esquecem...


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