VAI UMA BALINHA AÍ, SEU MOÇO?...

Domingo de tardezinha,  Eu estava meio à-toa Convidei meus companheiros   Pra ir pescar na lagoa...   Ai, ai, foi uma pescada boa.. 










COMO era gostoso. A gente deitado, meio acordado, meio dormindo, quando longe vêm aqueles acordes de um violão, e em seguida a voz melodiosa e por demais conhecidas do Seu Moço, cantando rua a fora essa sua canção predileta.
SÓ mesmo na nossa querida Vazante e pra quem tinha uma pessoa especial como ele.
MÁRIO MOREIRA DOS SANTOS. Esse é o seu nome. Vazantino nato, filho do Seu Artur Moreira, fazendeiro ali pros lados da Carranca, sendo um dentre vários irmãos que deixaram história.
FOI uma pessoa extremamente delicada. Convivia com todos da mesma forma, podia ser um adulto, um jovem ou uma criança. Seu jeito simples e meigo era exteriorizado em um sorriso carinhoso e sincero, refletido nos seus olhos miúdos e azuis e na balinha doce sempre disponível. 
VAI uma balinha aí, Seu Moço?

            
HÁBITOS também simples. O que mais gostava, além da música que trazia de berço, era uma pescadinha com o seu inseparável batin. Era uma espécie de arco e flecha, porém largamente utilizado em pescarias.Consistia de uma fisga engastada numa linha de pesca, que lançada pela força do seu arco alcançava o peixe até nas profundidades. Evidentemente que atualmente é proibido o seu uso, mas naqueles tempos que o Seu Moço o usava não tinha proibição alguma. E ele era mestre neste tipo de pescaria.
O Santa Catarina tinha fartura de água e de peixes. Participei de inúmeras pescarias com o Seu Moço. Normalmente o companheiro Afrânio descia na sua pirua, uma Rural Wilis, até a fazenda do seu cunhado, Pedrinho Ferreira, lá na Catarina.  Seu Moço, com a sua Ruspe, descia o seu barco aqui na altura da ponte atual e nós embarcávamos rio abaixo. Eu comandava o barco e ele jogava o seu Batin. Quando chegávamos lá onde os companheiros nos esperava o barco já estava cheio de peixes. Tinha fartura. Lembro-me bem de uma espécie sem escama, cabeça afunilada, conhecido por Pirá. Uns o apelidaram de peixe cachorro. Viam-se cardumes e mais cardumes, peixe muito manso e, por isso, fácil de ser fisgado. Também muito gostoso na panela. Mas a gente capturava todos as espécies de peixe. Era dourado, bicuda, matrinchã, surubi, enfim de todos que eram abundantes nas águas límpidas do Santa Catarina.
NA canoa, além dos petrechos de pesca, ia o violão e um pacote de balinhas doces, companheiras inseparáveis. Nessas pescarias era comum o pernoite, seja na casa de algum fazendeiro conhecido, ou na barraca que montávamos na beira do rio. Normalmente os pescadores ficavam até mais tarde pescando, fisgando alguns anzóis para ficarem pindados e retirados no dia seguinte. Só depois iriam para o pouso. Mas antes tinha uma rodada de truco e uma meia hora de cantoria do Seu Moço. QUANDO estava em Vazante, durante o dia ficava em casa, ou ia para a sua lavoura, cuidando das suas obrigações e a noite se quisesse encontrá-lo tinha de ir à casa do amigo inseparável, VICENTE DOS SANTOS, o nosso inesquecível Vicente Pena. Toda a noite reunia na sua casa, para formar a mesa de truco. Como a concorrência era muita, era na base do senta levanta. A dupla que perdesse cederia o lugar para outra dupla. A turma quase sempre a mesma. Alirio, Afrânio, Otavinho, Clarindo Lázaro, Zé Correia, Baixinho, Bastiaozão, Mário Moreira, Vicente Pena, Gustavo Solis, vez em quando, Pedro Chico e alguns outros, e eu. Embora não fosse considerado do primeiro time, de vez em quando eu chegava o couro nos tupirudos. Ficava o crédito para o meu parceiro, algum truqueiro de respeito.MAS o de melhor era o café da Dona Fia. Tempero imutável. O bule não secava, pois antes disso, lá vinha ela com outro bule quente.E, ASSIM, íamos até lá pelas dez da noite...PENSAM que ele vinha sem o violão? Ledo engano.  Ao descer rumo á sua casa, o violão ia alegrando quem estivesse recolhido em seus lares, ouvi.ndo os seus acordes e as suas canções: 

 “ Lá no moirão esquerdo da porteira,
Onde encontrei você para despedir               
Uma lembrança minha derradeira
E um lacinho que nele escrevi"
 "OH! Meu Deus! Quantas saudades"



D. MARIA DAS DORES MOREIRA, Dona Marica, companheira de longos anos. O casal teve nove filhos, Roberto, Jaine, Edna,Augusta, Aparecida, Geraldina, Valmira, Ângela e Artur. Duas das filhas, Edna e Aparecida herdaram do pai e da mãe o gosto pela música. D. Marica, apesar de não ser cantora, é de família de artistas, pois irmã de João Renes, grande intérprete da música sertaneja. O João Renes alcançou um grande sucesso nacional. Elas, as duas filhas, também já gravaram alguns CDs, com ótima repercussão. SEU Moço tinha uma camionetinha que servia para levá-lo para a lavoura e para as pescarias e vez ou outra aventurava uma viagem mais longa. Nem me lembro da sua marca, sei somente que não era das tradicionais fabricadas no Brasil. Ele nem a chamava de minha camioneta, mas a minha Ruspe. Deveria ser um nome estrangeiro assim grafado. Ela tinha um formato diferenciado das congêneres. A parte da frente, onde ficava o motor, era bem maior do que a carroceria dela. Bem pequenininha, servia para carregar quase tão somente os seus petrechos de pesca. 


JORGE PEIXOTO, ficou viúvo e se mudou para a cidade, vindo morar bem próximo á casa do Mário Moreira. Se já eram amigos, agora a amizade redobrou. Era comum a  gente passar na rua e ver os dois no alpendre do Seu Moço. Se não tivessem numa prosa boa, Seu Moço dedilhava o seu violão e cantarolava uma moda e o Jorge Peixoto aplaudia. JORGE era bem mais velho do que o Mário. Quando se enviuvou já passava dos oitenta. A saúde não era das melhores, por isso quase nem saía de casa e frequentava tão somente o alpendre do Seu Moço. Dali avistava-se a sua casa, nem dava trabalho para a sua filha, Maria chamá-lo para o almoço ou um café. NAQUELA intimidade os dois trocavam prosas miúdas, relembravam os velhos tempos, preenchiam as horas com revelações, algumas verdadeiras, outras aumentadas um ´pouco. Desnudavam as suas intimidades. Fazia parte. NUMA manhã, na hora costumeira, o Jorge chegou. D. Marica já trouxe o bule de café, descansando-o num dos tamboretes e eles garraram na prosa.
ENTRE um gole de café e outro, o Jorge se aproximou um pouco mais do Seu Moço, dando mostras de que queria lhe contar alguma coisa meio em segredo. Jorge Peixoto era um homem alto, bem amorenado e tinha uma voz ligeiramente fanhosa e às vezes falava um pouco alto. Não abria mão do seu chapéu de lebre, costume de muitas décadas. Ali no alpendre do Mário ele tinha lugar na mureta que ficava ao seu lado, onde ele recostava e o esfregava nas mãos. DEPOIS de uma olhada lá pra dentro da casa, ele começou a revelar pro seu anfitrião o sonho que tivera naquela noite. Falando e de olho na sala. Precaução desnecessária,Dona Marica sempre ocupada com os seus afazeres, raramente vinha onde eles estavam. 
COMEÇOU a revelar o seu sonho. Segundo ele tinha sonhado com uma moça bem bonita. Mas bonita mesmo. Realçava a beleza da moça. Tava assim meio lusco fusco, quando ela foi entrando no meu quarto. Deitou-se na cama bem pertinho de mim; olhei-a já estava quase sem roupas. 
OS OLHOS fisgados no Seu Moço, querendo sentir a reação dele diante daquela emoção que repassava. E, continuou. Quando ela começou a relar ne mim, Mário, eu fui ficando meio sem fôlego. Levei a mão no corpo dela e ela encostou mais ne mim. Esta, trem bão, Seu Moço! A coisa estava bem encaminhada...FAZIA suspense. Procurava encontrar no seu interlocutor a ansiedade que ele procurava repassar com a revelação daquele sonho. E, porque não, até uma ponta de inveja do que vivenciou. E, continuou: -Aí, cê sabe né Mário? Fui adiantando mais com a moça e... Finalmente aconteceu... Mais na hora do bem bão, Seu Moço, eu acordei todo BREIADO!
NESSA  hora o Mário,  com aquela carinha crítica que só ele sabia fazer, mirou bem nos olhos do Jorge e indagou sério:CAGOU, SEU MOÇÂO??!!!
ESSE era o Seu Moço que eu conheci e muita alegria proporcionou a nos todos e a sua família...

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