BRAZ MARTINS DE OLIVEIRA e LÁZARO JOSÉ DE ASSUNÇÃO


A cidade ainda pequena – parecendo que hoje ela é grande -, tinha como a área de maior movimento as saídas das companhias de mineração, MASA e MINEIRA DE METAIS. Especialmente ali no início, ou final não sei, da Rua Quintino Vargas, onde localizavam o único Posto de Gasolina, (por que não de abastecimento de petróleo?). Simplesmente porque eram revendidos apenas alguns óleos lubrificantes e a própria gasolina, que lhe deu o nome. Hoje o Posto Atlântic, da família do Jonas Moreira. Tinha mais na frente um pouco, o Ginásio... e, só.



De um lado tinha a venda do Braz Martins e do outro lado, tinha a venda do Lazaro José de Assunção, outro grande amigo, mais conhecido por Lazo Rola, (se eu assim não o identificar, muitas pessoas não saberão de quem se trata).
Os dois comerciantes desfrutavam de uma preferência quase total do comércio no ramo de negócios que ambos estabeleceram. Era um misto de mercearia e bar, onde o freguês comprava seus gêneros alimentícios, algumas frutas e podiam também tomar a sua cachacinha e até uma cerveja gelada. O cafezinho era franco desde o amanhecer, onde os passageiros aguardavam para embarcar nas jardineiras que por ali passavam.
A cidade não tinha uma estação rodoviária, mesmo porque não tinha também movimentação de transportes coletivos que justificasse a existência desse equipamento urbano. As únicas que existiam era a que ia e vinha de Paracatu e a outra de Patos de Minas, e elas tinham os locais onde embarcavam e desembarcavam os passageiros. Ali de frente do Braz e do Lázaro, eram um dos pontos. Quando saía, parava do lado do Lázaro e quando chegava parava do lado do Braz Martins.
Muito comum naqueles felizes tempos às pessoas fazerem encomendas para o cobrador da jardineira, ou até mesmo pelo motorista, e virem aguardar a chegada em frente ao Braz Martins, para apanhar as suas encomendas. Caso não fosse possível essa coincidência, já era de praxe que deixassem as encomendas em qualquer um dos dois, ou no Braz, ou no Lazo Rola.
Era uma movimentação singular, pois era um ponto de maior movimentação de pessoas, sendo que ali também embarcavam os operários das duas Empresas de Mineração. Às vezes os horários coincidiam e a rua ficava cheia de pessoas, pois carros eram poucos.
Para saber qual dos dois comerciantes era o melhor, só se fosse por sorteio. Ambos eram pessoas sem defeito. Sempre alegres, serviçais, prontos para servir e ficavam à disposição dos seus fregueses.
O Lázaro era muito disposto, apesar de carregar consigo algum problema de saúde, ainda assim não tinha tempo ruim.
Gostava muito de futebol, chegou a ser Diretor de um time, O ARSENAL, que foi campeão dessa modalidade esportiva em Vazante. Extremamente religioso e devoto de Nossa Senhora da Lapa, não perdia as missas dominicais e as novenas da Santa Padroeira. Caridoso por natureza, fazia parte da confraria de São Vicente de Paulo. Zelou do José Ponciano de Almeida, o Zé Bobo, não deixando que pernoitasse nas ruas e nem passasse das horas de se alimentar. Isto até acontecer um acidente de automóvel, que tirou a vida do coitado.
Moacir José de assunção
Lázaro José de Assunção foi casado com a D. Gení Maria de Freitas Assunção, com quem teve um casal de filhos. A primeira, Maria Lazara de Assunção    e o segundo, Moacir José de Assunção. Ela incansável batalhadora na área da saúde, na condição de enfermeira em Uberlândia. E ele um médico conceituado, tido como o melhor urologista da região. É o orgulho para o finado pai e para a Dona Gení, bem como para a sua família e todos nós vazantinos.
Pena que a patologia que acompanhou o Lázaro por um bom período da sua vida o tirou, ainda jovem, do meio da sua família e dos seus amigos. Mas deixou muitas saudades e um nome exemplar, para orgulhar a todos que o conheceram e com ele conviveram.
Braz Martins de Oliveira, o comerciante do outro lado da rua, foi casado com a D. Joana Almeida de Oliveira, sendo pais de dez filhos: Carmem Sueli de Oliveira Conderato, José Humberto de Oliveira, Gilmar Martins de Oliveira, Paulo Roberto de Oliveira, Pedro Martins de Oliveira, Marcos Antônio de Oliveira, Silvano, Júlio Cesar de Oliveira, Márcia Maria de Oliveira e Luciana Cristina de Oliveira.
Braz Martins era também uma pessoa fantástica. Permanecia dentro do seu comércio desde o raiar do dia até o seu fechamento, normalmente em torno das nove horas da noite. Servia os seus fregueses com muita parcimônia, sem pressa e sempre na boa conversa. Era comum a gente pedir uma cerveja, ele trazia e punha a garrafa sobre o balcão, levava a chave na tampa e iniciava contar um causo e ficava alguns minutos com a chave suspensa, sem abrir a garrafa. Era detalhista ao extremo. O freguês, às vezes impaciente, tinha de aguardar o final da história, para saciar a sua sede etílica.
Á propósito, numa tarde, na chegada da jardineira, infelizmente aconteceu um homicídio quase em frente da venda do Braz.
O homicida ficou aguardando a chegada da jardineira, adrede preparado para cometer esse homicídio. Foi a conta de a vítima descer da condução, andar uns poucos metros e recebeu os tiros que ceifou a sua vida. Chegou a ser levado para o Hospital, mas não resistiu aos ferimentos, vindo a óbito. Foi um corre corre dos diabos, deixando todos que ali estavam estarrecidos.
A polícia foi acionada, mas o criminoso conseguiu evadir-se e sair do flagrante, o que permitiu que permanecesse em liberdade até o seu julgamento. Me faz  lembrar o João Seabra gostava desses termos: “ o meliante adentou-se ao mato e não foi possível a sua captura...”
Instaurou-se o inquérito. Foram ouvidas algumas testemunhas e o Promotor de Justiça de Paracatu – á época Vazante pertencia á Comarca de Paracatu -. ofereceu a denúncia e a persecução penal teve o seu curso.
A instrução do Processo é a fase em que são ouvidas em Juízo, tanto o indiciado como as testemunhas e são realizadas perícias, juntadas de documentos, etc.
Uma das testemunhas presenciais foi o Braz Martins. E eu fui advogado da defesa do acusado.
A testemunha é considerada no jargão da Justiça como a prostituta das provas. Muitas delas prevaricam, mentem, distorcem os fatos e, por isso, dificulta um julgamento justo e eficaz a cada caso. Como também, ajuda o Magistrado a prolatar uma Sentença justa.
Por essa razão, a Justiça, em casos dessa natureza, se firma nos depoimentos das pessoas que assistiram aos fatos e os noticiam com clareza e com afirmações coesas, oferecendo ao Julgador a certeza de estar julgando com serenidade e aplicando a Justiça na forma da lei.
Chegou o dia da oitiva das Testemunhas.
 Pelo Oficial de Justiça foi solenemente chamado o nome do Braz, ordenando que se adentrasse a sala de audiências.
Frente a frente com o Magistrado o Braz se sentia á vontade, o que não ocorre normalmente com a maioria das pessoas que são intimados a depor em Juízo.
Lá estavam o Promotor de Justiça, aguardando ansioso o depoimento daquela testemunha visual do crime. Eu, também, como advogado da defesa, tomava assento acompanhando o meu cliente. Lado a lado os Oficiais de Justiça.
O escrivão, como de praxe, iniciou a identificação da testemunha: nome, estado civil, endereço... enfim a identificação completa. Ao indagar o nome dele já deu início a uma série de explicação.
O meu nome é Braz Martins de Oliveira. Mas tudo culpa do escrivão lá da Vazante, um tal de Sebastião Correia que era o dono do cartório. Eu era pra chamar outro nome, mas... O senhor conheceu ele? Se dirigindo ao funcionário.
O escrivão o interrompeu dizendo que isso não tinha nenhum interesse. E continuou com as perguntas subsequentes.
Finda a identificação o Juiz fez a advertência legal, dizendo da obrigação de dizer a verdade, pois mentir em Juízo é crime. Indagando a seguir se ele estava disposto a falar a verdade sob as penas da lei?
Nesse momento o Braz fez um discurso. Olha Doutor. Eu nunca fui homem de mentira. Desde uma vez que o ...
O juiz pressentiu que seria um depoimento complicado. O tal de Braz era muito difícil de ser interrogado. Mas continuou indagando: “O que o senhor sabe pra contar pro Juiz os fatos que se deram naquele dia, quando o fulano cometeu esse homicídio na pessoa do cicrano? (deixo de dizer os nomes do acusado e da vítima por respeito a ambos).
O Braz começou a ladainha dele. Olha Doutor! A Jardineira chegou e eu ali naquela minha ocupação, serve uma cerveja pra um, uma cachacinha pra outro. De repente o cobrador da jardineira traz uma encomenda pra ser entregue pro Tião da Zina...
Seu Braz, o senhor pode pular essas partes...
Pois é. Aí a jardineira saiu e eu tava observando. O Seu Antônio Eraque passava lá do outro lado, com aquele passinho miúdo dele. O senhor conhece o Eraque? Não Seu Braz, não conheço ninguém de Vazante. E, aí Ele continuou. Nisso um cachorro levantou a perninha e mijou no poste, mesmo onde o Eraque passava quase mijando também no Regis do Antônio João, que passava de bicicleta. Minto, não era o Regis, era o Moacir do Lazo Rola. Dois meninos levados... Aí eu abaixei pra guardar as encomendas do Tião, quando ouvi uns três tiros...
O juiz começou a se animar. Parecia que a testemunha tinha iniciado a relatar os fatos que presenciou.  
... Nisso a Joana, minha mulher, me chamou lá na cozinha...
A impaciência do magistrado retornou evidente...
Seu Braz, até o momento o senhor não conseguiu me dizer nada relativo ao crime. O que o senhor viu lá naquele momento? De que maneira ocorreu esse homicídio? O que que o senhor ne conta desse homicídio?
Uái!  O senhor acredita que eu não vi nada daquilo lá, Seu Doutor. O povo não dá tempo...
O juiz fulo de raiva mandou encerrar a oitiva da testemunha, determinando a dispensa dela e ordenando a entrada de outra, enquanto tomava um cafezinho no cômodo ao lado...
Em resumo foram duas pessoas de valor inestimável. Além de excelentes maridos, pais de famílias, exemplares, tiveram uma participação considerável na construção da nossa querida cidade de Vazante...

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