O ANTES, O DURANTE E O DEPOIS...

Batalhei arduamente por quase quarenta anos na difícil tarefa de advogar.

Além do conhecimento técnico da profissão o advogado tem por obrigação conhecer de muitas outras profissões, pois convive com todos os tipos de pessoas e, sobretudo, por muitos tipos de problemas que lhes são trazidos pela multiplicidade de clientes.Principalmente numa cidade pequena, como a nossa, não nos é permitido eleger somente alguns tipos de causa que venha a abraçar. Tem de se tornar um profissional de conhecimento heterogêneo, pois não pode, em hipótese alguma, deixar de defender aquele cliente que o procura, sob pena de ficar alijado do rol dos advogados que servem a população. A cidade é pequena, não nos dá ao luxo da especialização.

Eu, principalmente, que me formei bem depois do tempo normal, já quase no final do segundo tempo, embora tivesse sido convidado por colegas de turma para me mudar para as cidades deles, onde a carência de profissionais da área era bem grande, preferi ficar na minha terra e, bem ou mal, servir ao nosso Povo. E nunca disso me arrependi. Fiquei. Montei a minha pequena banca e enfrentei os cento e vinte quilômetros de estrada de terra, ligando a Paracatu. Enfrentei aquela Comarca complicada. Tinha época que ficava meses sem Juiz. Quando chegava o Juiz, o Promotor ia embora. E lá ficávamos naquele eterno sofrimento com os nossos clientes cobrando, e com razão, e a gente não tinha como resolver as suas pendências

Como iniciante, me dei muito bem com os profissionais experientes que tinham na Comarca. Todos acessíveis, nunca me negaram as suas experiências, quando deles precisei. Guardo boas lembranças e sinceras amizades.Mas isso é próprio de qualquer profissão. Normalmente o profissional iniciante tem de se curvar diante daqueles mais vividos e saber tirar deles os competentes ensinamentos até ganhar a quilometragem necessária para rodar sozinho.Mesmo com todos os percalços não me deparei com grandes dificuldades, pois como disse, se não era experiente na profissão, era na vida, pois já tinha feito quase de tudo.Em pouco prazo me tornei um advogado conhecido e solicitado, em razão das boas amizades que fiz ao longo da minha vida. E também pela eficiência que procurei imprimir a todos os feitos sob a minha responsabilidade.Fiz quase de tudo que a profissão requeria.Fui um advogado de sucesso. Ganhei fama. Ganhei algum dinheiro. Prestei muito mais serviços gratuitos do que aqueles que me renderam honorários. Fiz amigos, admiradores, mas fiz também desafetos, o que é próprio da profissão. Nunca me preocupei com isso, pois tenho absoluta certeza de que fiz muito mais o certo do que o errado. Aliás. Errado garanto que nunca fiz. Nós, os advogados, enfrentamos incompreensões, pois quando se advoga em favor de alguém a parte contrária entende que a gente advogou contra ela. E, isso não é verdade. Para as pessoas com um melhor nível de compreensão, vem depois o reconhecimento. Em outra oportunidade, quando necessita de um bom advogado, esse causídico é o primeiro a ser procurado. Se ganhou para o outro, ganhará para mim. 


Pensamento correto...ISSO é o ANTES e o DURANTE. Agora vem o depois...O meu escritório, o ESCRITÓRIO DE ADVOCACIA MELO, foi o primeiro a ser inaugurado em Vazante. Durante cerca de trinta e alguns anos prestei, sozinho, os meus serviços jurídicos a milhares de clientes. Parte na Comarca de Paracatu e região, e a outra parte na Comarca de Vazante.  Em 1.992, o meu filho Júlio Vernec Guimarães Borges de Melo, formou-se na mesma Escola que me formei, na Escola de Direito da Universidade Federal de Uberlândia e, como eu, preferiu, também vir trabalhar na sua terra.Com alguns anos da sua permanência no Escritório, fui me afastando e deixando que ele se responsabilizasse pelos serviços, seja em curso, seja nas novas ações. Não tive dúvidas. Seria ele até melhor do que o pai. E, é.O advogado sai do escritório, mas o escritório não sai dele.
Muitos me questionaram. Como você, ainda em boa idade, deixar a advocacia? Uma profissão tão rentável... Ainda mais um Escritório reconhecidamente de sucesso como o seu. A minha resposta é sempre a mesma. O dinheiro é importante na vida das pessoas, mas não pode ser a única razão da sua existência. Todo tanto de dinheiro que alguém ganha, sempre haverá outro alguém que tenha mais do que ele. Vamos focar em outras atividades. Vamos dividir a vida com outras pessoas e saber viver os anos restantes sem atribulações.Mas o depois, sempre nos acompanha.
É comum se deparar com alguém que aproveita o encontro para agradecer penhoradamente um favor que julga tenha obtido. A maioria, nem mais lembrado por mim, pois jamais fiz alguma coisa para alguém visando alguma recompensa depois. Mas a gente é forçado a se lembrar. Ou lembra ou finge que lembra. E a pessoa mais uma vez agradece, em alguns casos com lágrimas nos olhos.Nesses momentos em que estamos sendo obrigados a permanecer em casa, dei uma escapulida por extrema necessidade. Tive de ir numa casa de frutas e verduras comprar algumas delas para o nosso consumo.Bem apetrechado, máscara no rosto, estou de banca em banca escolhendo as minhas preferenciais.  De repente me deparo com uma senhora, que apesar da máscara a reconheci. Ela também me reconheceu e me cumprimentou com um gesto de cabeça, ao que correspondi. Mas não ficou somente nisto. Ficamos em distância recomendada e eu indaguei dela sobre o filho. De uma maneira singela, mas que ela entenderia, perguntei pelo menino.Me arrependi. Naquele momento ela baixou o olhar para o piso do estabelecimento e somente me falou em tom baixo, quase inaudível, “ele voltou pra lá”...Oh! Meu Deus!!! Vi nos olhos daquela criatura todo o sofrimento que invadiu e dilacerou o seu coração de mãe.
Esse ele voltou pra lá, significa que estaria novamente preso. Certamente aprontou outra vez e foi pego pela polícia.Seu filho, um jovem que se envolveu no mundo das drogas ilícitas. A princípio, usuário apenas. Mas, daí ao tráfico é um pulo. Depois, de qualquer forma é um ser completamente dominado pelos traficantes desalmados. Dai pra frente, só sofrimento, só Deus...O Sofrimento daquela pobre mãe me contagiou como sempre acontece comigo diante de situações dessa natureza. Dividi com ela a dor de ver aquele pobre filho recluso junto a outros prisioneiros, talvez em piores situações do que a dele. Aguardando julgamento, esperando a atuação do advogado. Enfim, uma situação das mais difíceis.Eu tinha sido seu advogado no início da sua incursão no mundo do crime. Já se foram uns cinco anos ou mais. Tentei por todos os meios a convencê-lo a abandonar aquela vida. Aconselhei ao jovem que voltasse a estudar, conseguir um trabalho honesto. Enfim, refizesse  a sua vida enquanto era tempo. De nada valeu.
Como fui aos poucos saindo da advocacia o seu caso foi repassado a outro colega, pois o meu filho preferiu não advogar na área criminal.Sai daquele estabelecimento derrotado. Não conseguia esquecer do sofrimento daquela pobre mulher, que representa o sofrimento de outros milhares de mães, que vivem esse inferno de vida causado pela famigerada droga. Não conseguia apagar da memória aqueles olhos sofridos, demonstrando um misto de sofrimento, vergonha, revolta, enfim traduzindo tudo de ruim que pode representar uma situação como essas.Intimamente me repreendi por longos minutos, me condenando pra que fui indagar do menino? Mas era uma indagação mecânica, quase natural, pois já havia compartilhado com aquela mãe um bom tempo de seu padecimento com as mazelas daquele filho.  Imaginava e torcia para que dela viesse uma resposta positiva. Que o filho dela tivesse regenerado. Que estivesse trabalhando. Se casado e dando a ela netos... Mas infelizmente...

Daí, é que não tem como deixar de tirar o chapéu para o Seu Hermes e os demais companheiros de AA, nos quais me incluo abnegados no trato com as pessoas dominadas pelo álcool e pelas drogas.Feliz a hora que unimos um grupo de pessoas e criamos o Grupo de Alcóolicos Anônimos, o AA. Certamente essa instituição não veio para vencer totalmente o alcoolismo e outras drogas, mas pelo menos já resolveu uma boa parte. Certamente já amenizou o sofrimento de muitas famílias, levando a paz e a tranquilidade roubada pela maldição do consumo excessivo de álcool e das malditas drogas ilícitas...SAÍ da frutaria arrasado, sem poder dar nenhum auxilio aquela pobre mãe desesperada, chorando por dentro a infeliz ausência do filho amado.““É o que sempre dizemos em AA:” Se conseguirmos tirar pelo menos um dos caminhos do álcool ou das drogas, já nos damos por felizes” .É a certeza de que um coração de mãe dormirá em paz e a tranquilidade reinará naquele premiado lar...

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