VICENTE DOS SANTOS e MÁRIO MOREIRA
Vicente Pena e Mario Moreira |
Mário Moreira, o Seu Moço, já ficou bastante badalado nos meus relatos, pois há pouco relatei o diálogo dele com o Jorge Peixoto, que teve milhares de visualizações.Vicente dos Santos Pena, pra quem não conhece, é Vicente Pena. Esse por seu turno, foi ligeiramente mencionado no mesmo texto, sendo que na sua casa eram as nossas noites de laser, em volta de uma mesa de truco.Mas agora vamos falar dele com mais detalhes.
Desde criança conheci o Seu
Vicente Pena. Sempre o memorizei montado no seu cavalo, utilizado todos os dias
para fazer o percurso entre a cidade e a sua fazenda na região do Rochedo. De
manhã bem cedinho, enquanto o Seu Vicente tomava o seu café, o Calixto ia pro
pastinho, ali próximo da sua casa e vinha com o cavalo encabrestado. De
imediato metia-lhe a cela e o deixava pronto pro patrão fazer a sua viagem
diária.
O seu chapéu, sempre na cabeça, só era
retirado á noite, quando reuníamos na sua casa para o truco diário. Meio
emborcado em cima da cela, traçava a cidade, cumprimentando alegremente a cada
pessoa que encontrava pela frente. A sua voz ligeiramente estridente era
inconfundível.
Lá na fazenda estava o Cheiro, Manoelzinho, o Joaquim Fulô e o Ricardino, fieis companheiros da lida diária.
Eram eles quem cuidava diariamente do gado, da limpeza dos pastos e do quintal,
onde produzia a fartura de frutas e legumes para o sustento deles e da casa do
patrão.
Como sempre digo, eu fui uma
pessoa que sempre cultivei a amizade das pessoas mais idosas. Era comum
procurar o Seu Vicente Pena para ficar com ele um bom pedaço de dia ouvindo
dele os eternos causos que me contava. Muitos deles me serviram e muito para
escrever o meu último livro “A Nesga Goiana”. Seu Vicente foi criado naquela região
onde o litígio goiano tinha maior evidência.
Na sua casa era sempre bem
recebido. D. Dária Rosa, mais conhecida por D. Fia, era uma pessoa também especial.
As duas filhas de Seu Vicente, Oneda e Neida, moravam com os pais na mesma
casa. Eram umas simpatias de pessoas. Depois se casaram com meus dois amigos,
de infância, Teotônio Santiago de Oliveira e Milton Teixeira da Fonseca. Redobraram
as amizades. Vieram os filhos, como não poderiam negar as origens, são da
melhor qualidade e amigos dos amigos dos seus pais, e, por consequência, dos
meus filhos também.
Seu Vicente tinha como
irmãos, Neftali da Silva Pena, Cândida da Silva Pena, Luzia da Silva Pena,
Joaquim da Silva Pena, Perícles da Silva Pena, Alírio Herval e Geralda
Prachedes de Jesus, todos radicados em Coromandel. Seu Joaquim Pena e o Vicente
foram os dois que mais ligações tiveram com Vazante, pois ambos fazendeiros
neste município. Seu Alírio Herval também teve uma ligação grande com o povo de
Vazante, mais pela liderança política que exerceu na região.
Fazendo um parêntese, paga a
pena contar uma passagem do seu mano, Alirio Herval, em Belo Horizonte.
Nas suas constantes idas à
Capital, por força da sua liderança política, ele estava hospedado num dos
últimos andares de um Hotel. Com uma audiência política agendada, após o banho,
vestiu o seu terno, atou a gravata e se perfumou. Na porta do elevador aguardava
para descer e tomar o seu destino.
Quando o elevador abriu a
porta, ele adentrou no mesmo, que já estava com a lotação quase exaurida. Nisso
um dos ocupantes que estava dentro, lá nos fundos do aparelho, disse de modos
que ele pudesse escutar: “ Eu não gosto de homem cheiroso...”, se referindo ao
perfume que Seu Alírio havia usado.
Seu Alírio, mineiro e
matreiro ao mesmo tempo, nada disse. Mas imaginou: “...deixe estar...” Quando o
elevador chegou ao destino ele segurou a porta dele e mirando pra dentro,
retrucou assim: “ ...já eu, não gosto de homem é de jeito nenhum...” e foi se
retirando.
Voltemos ao Seu Vicente e o
Mário Moreira...
Numa noite de truco na
residência do Seu Vicente, ele agendou com o Mário Moreira uma viagem para
Coromandel, onde necessitava de acertar alguns negócios. Como o Mário
manifestou também a sua intenção de ir àquela cidade, combinaram de sair bem
cedinho. Foi o que fizeram, pois pretendiam ir e voltar no mesmo dia.
Pagava a pena ouvir o
Vicente relatar o desfecho da viagem. Ele tinha um jeito todo especial para esmiuçar
os acontecimentos.
Eu mantive com ele uma
convivência extremamente boa. Gostava imensamente de conversar com o Vicente,
pois ele me considerava muito e a recíproca era verdadeira. Ele foi muito amigo
do meu pai e certamente transferiu essa amizade para mim. Uma particularidade
em relação a mim e o Vicente Pena. Tanto ele como seus familiares e até os seus
empregados me chamavam pelo meu nome legítimo, Marciano. Acho que é por ter o
nome do meu avô, com o qual convivera no seu tempo de moço lá na região da Macaúba.
Segundo o Vicente, a viagem
transcorria normalmente. A Ruspe (como
já sabemos, a Ruspe é o carro do Seu Moço), trafegava pela estrada de terra com
desenvoltura e o Mário elogiando a sua performance. Percorreram cerca de uns
vinte quilômetros, já chegando a fazenda do seu primo Enoque Pena, na fazenda
Canoas.
AÍ o Vicente esbarra o
assunto e diz com aquele seu jeitão peculiar, que neste dia o Seu Moço o
transformou em um devoto de um santo até então por ele desconhecido:” O SÃO
BEDECO”.
Isto porque, ao passarem
pelo córrego das Canoas, quase defronte da fazenda do seu primo Enoque Pena,
tinha uma ligeira subida. Daí, iniciava-se uma descida íngreme e cheia de curvas,
que daria em outra pontezinha, em uma pequena grota, nas divisas com as terras
do Sinhô Cruvinel, onde ocorreu o ponto chave da narrativa dele. Quando a Ruspe
embicou na descida dessa grota, o Seu Moço meteu o pé no pedal dos freios. Sem
encontrar qualquer resistência viu que o pedal foi até ao assoalho do automóvel
e nem sinal de frenagem. A Ruspe foi pegando embalo e as curvas foram se
sucedendo. A cada curva que ele fazia
ele chamava pelo Santo: - São Bedeco! Fazia aquela curva e a camioneta embalava
mais, estrada abaixo e surgia outra curva. Seu Moço firmava o volante e fazia a
curva e novamente invocava o Santo: - São Bedeco! E, segundo o Vicente, ele
cuidou de segurar bem dentro da Ruspe e resumiu a façanha do Mário e a sua
Ruspe. De São Bedeco em São Bedeco fomos até embicar na ponte e sair do outro
lado. E arrematava: nenhum de nós parecia ter sangue no corpo. A gente tava
branco que nem algodão.
Desde esse dia fiquei devoto
do São Bedeco, pois só pode ser pelo milagre desse Santo que possibilitou com
que o Seu Moço conseguisse a façanha de fazer aquele tanto de curva até
conseguir sair do outro lado daquela grota pilotando a sua Ruspe...
CHEGAMOS no Coró já de
tardezinha. O retorno foi no outro dia...
Lá na fazenda estava o Cheiro, Manoelzinho, o Joaquim Fulô e o Ricardino, fieis companheiros da lida diária.
Eram eles quem cuidava diariamente do gado, da limpeza dos pastos e do quintal,
onde produzia a fartura de frutas e legumes para o sustento deles e da casa do
patrão.
Como sempre digo, eu fui uma
pessoa que sempre cultivei a amizade das pessoas mais idosas. Era comum
procurar o Seu Vicente Pena para ficar com ele um bom pedaço de dia ouvindo
dele os eternos causos que me contava. Muitos deles me serviram e muito para
escrever o meu último livro “A Nesga Goiana”. Seu Vicente foi criado naquela região
onde o litígio goiano tinha maior evidência.
Na sua casa era sempre bem
recebido. D. Dária Rosa, mais conhecida por D. Fia, era uma pessoa também especial.
As duas filhas de Seu Vicente, Oneda e Neida, moravam com os pais na mesma
casa. Eram umas simpatias de pessoas. Depois se casaram com meus dois amigos,
de infância, Teotônio Santiago de Oliveira e Milton Teixeira da Fonseca. Redobraram
as amizades. Vieram os filhos, como não poderiam negar as origens, são da
melhor qualidade e amigos dos amigos dos seus pais, e, por consequência, dos
meus filhos também.
Seu Vicente tinha como
irmãos, Neftali da Silva Pena, Cândida da Silva Pena, Luzia da Silva Pena,
Joaquim da Silva Pena, Perícles da Silva Pena, Alírio Herval e Geralda
Prachedes de Jesus, todos radicados em Coromandel. Seu Joaquim Pena e o Vicente
foram os dois que mais ligações tiveram com Vazante, pois ambos fazendeiros
neste município. Seu Alírio Herval também teve uma ligação grande com o povo de
Vazante, mais pela liderança política que exerceu na região.
Fazendo um parêntese, paga a
pena contar uma passagem do seu mano, Alirio Herval, em Belo Horizonte.
Nas suas constantes idas à
Capital, por força da sua liderança política, ele estava hospedado num dos
últimos andares de um Hotel. Com uma audiência política agendada, após o banho,
vestiu o seu terno, atou a gravata e se perfumou. Na porta do elevador aguardava
para descer e tomar o seu destino.
Quando o elevador abriu a
porta, ele adentrou no mesmo, que já estava com a lotação quase exaurida. Nisso
um dos ocupantes que estava dentro, lá nos fundos do aparelho, disse de modos
que ele pudesse escutar: “ Eu não gosto de homem cheiroso...”, se referindo ao
perfume que Seu Alírio havia usado.
Seu Alírio, mineiro e
matreiro ao mesmo tempo, nada disse. Mas imaginou: “...deixe estar...” Quando o
elevador chegou ao destino ele segurou a porta dele e mirando pra dentro,
retrucou assim: “ ...já eu, não gosto de homem é de jeito nenhum...” e foi se
retirando.
Voltemos ao Seu Vicente e o
Mário Moreira...
Numa noite de truco na
residência do Seu Vicente, ele agendou com o Mário Moreira uma viagem para
Coromandel, onde necessitava de acertar alguns negócios. Como o Mário
manifestou também a sua intenção de ir àquela cidade, combinaram de sair bem
cedinho. Foi o que fizeram, pois pretendiam ir e voltar no mesmo dia.
Pagava a pena ouvir o
Vicente relatar o desfecho da viagem. Ele tinha um jeito todo especial para esmiuçar
os acontecimentos.
Eu mantive com ele uma
convivência extremamente boa. Gostava imensamente de conversar com o Vicente,
pois ele me considerava muito e a recíproca era verdadeira. Ele foi muito amigo
do meu pai e certamente transferiu essa amizade para mim. Uma particularidade
em relação a mim e o Vicente Pena. Tanto ele como seus familiares e até os seus
empregados me chamavam pelo meu nome legítimo, Marciano. Acho que é por ter o
nome do meu avô, com o qual convivera no seu tempo de moço lá na região da Macaúba.
Segundo o Vicente, a viagem
transcorria normalmente. A Ruspe (como
já sabemos, a Ruspe é o carro do Seu Moço), trafegava pela estrada de terra com
desenvoltura e o Mário elogiando a sua performance. Percorreram cerca de uns
vinte quilômetros, já chegando a fazenda do seu primo Enoque Pena, na fazenda
Canoas.
AÍ o Vicente esbarra o
assunto e diz com aquele seu jeitão peculiar, que neste dia o Seu Moço o
transformou em um devoto de um santo até então por ele desconhecido:” O SÃO
BEDECO”.
Isto porque, ao passarem
pelo córrego das Canoas, quase defronte da fazenda do seu primo Enoque Pena,
tinha uma ligeira subida. Daí, iniciava-se uma descida íngreme e cheia de curvas,
que daria em outra pontezinha, em uma pequena grota, nas divisas com as terras
do Sinhô Cruvinel, onde ocorreu o ponto chave da narrativa dele. Quando a Ruspe
embicou na descida dessa grota, o Seu Moço meteu o pé no pedal dos freios. Sem
encontrar qualquer resistência viu que o pedal foi até ao assoalho do automóvel
e nem sinal de frenagem. A Ruspe foi pegando embalo e as curvas foram se
sucedendo. A cada curva que ele fazia
ele chamava pelo Santo: - São Bedeco! Fazia aquela curva e a camioneta embalava
mais, estrada abaixo e surgia outra curva. Seu Moço firmava o volante e fazia a
curva e novamente invocava o Santo: - São Bedeco! E, segundo o Vicente, ele
cuidou de segurar bem dentro da Ruspe e resumiu a façanha do Mário e a sua
Ruspe. De São Bedeco em São Bedeco fomos até embicar na ponte e sair do outro
lado. E arrematava: nenhum de nós parecia ter sangue no corpo. A gente tava
branco que nem algodão.
Desde esse dia fiquei devoto
do São Bedeco, pois só pode ser pelo milagre desse Santo que possibilitou com
que o Seu Moço conseguisse a façanha de fazer aquele tanto de curva até
conseguir sair do outro lado daquela grota pilotando a sua Ruspe...
CHEGAMOS no Coró já de
tardezinha. O retorno foi no outro dia...
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