A ADVOCACIA É FASCINENTE...

A advocacia é deveras fascinante. Profissão rentável presenteia o profissional com um status invejável.Proporciona um relacionamento social e eleva muito o ego daquele que consegue galgar o sucesso que a profissão permitiu.
Mas será que isso é importante?
Depende muito da formação religiosa, humana e da própria criação do individuo no lar que ele nasceu e se criou.

Fui um profissional advogado que obtive um relativo sucesso.Tive muitas dificuldades até conseguir me formar. Vindo de duas provas: de madureza ginasial e supletiva do segundo grau. Tive pouco tempo de banco escolar, pois os meus dois diplomas do primeiro e segundo grau são datados no mesmo ano.E pouco banco escolar de nível superior também tive, pois frequentei a Escola de Direito da Universidade Federal de Uberlândia no sistema de infrequência.Estudava as matérias em casa e a cada bimestre fazia as provas juntamente com os alunos frequentes.

Mas me formei, consegui a minha inscrição na Ordem e advoguei por décadas, inicialmente na Comarca de Paracatu e, depois, em Vazante, essa terra que receberá os meus restos mortais.

Prestei os mais diversos tipos de trabalho na área jurídica, porque as cidades interioranas não nos dão o luxo de especializarmos,nos obrigando a ser um advogado polivalente.Ou seja, mais ou menos um conhecedor de todas as áreas do Direito.

Ganhei algum dinheiro. Não fiquei rico, mesmo porque nunca foi essa a minha pretensão. Ganhei o suficiente para me manter dignamente, dar o sustento razoável para a minha família. Estudar os filhos e encaminhá-los para uma vida honrada, honesta e viver à custa dos seus trabalhos.

Contudo a advocacia me proporcionou maravilhas, pois tive oportunidade de prestar alguns serviços na área, que me deixaram interiormente realizado e satisfeito.

A maioria esmagadora dos serviços que prestei na nossa cidade foi gratuitamente.Mesmo porque não existiam outros meios de atender a classe menos favorecida da comunidade. Talvez em razão da distância da sede da Comarca, que foi em Paracatu, por cerca de doze anos iniciais da minha difícil carreira jurídica. E, com a instalação da nossa Comarca, continuei a atender os meus clientes gratuitos da mesma forma.

Graças ao bom Deus, tive uma criação de berço que me fez ver as pessoas carentes com os mesmos olhos que via o mais abastado dos meus clientes.Tinha a consciência de saber que a pessoa pobre ao sair de casa em busca de solucionar alguma coisa que o importunava, já saía imaginando que não iria dar certo. Por isso os recebia em meu escritório com a mesma dignidade de um cliente endinheirado.

Podem ter a certeza de que, hoje ao relembrar os serviços jurídicos que prestei aos meus clientes, que foram aos milhares, não me acode à mente aquele que me rendeu algum dinheiro, vem em primeiro lugar aqueles que resolveram para aquelas pessoas que jugavam que as suas coisas “não dariam certo”, e, na maioria, deu.

Não tenho espaço e nem devo ficar aqui relatando os casos dessa natureza, mesmo porque, biblicamente, diz que o que se faz com uma mão a outra não deve saber. Mas tem um caso em particular, o qual com a permissão da pessoa que foi objeto da ação ainda criança, e hoje adulta, por uma razão justificável, vou relatar.

Há uns trinta e muitos, talvez quarenta anos passados, numa tarde de sexta feira, estava num barzinho do Posto do João Victor, onde a gente bebericava uma cervejinha – naquele tempo em ainda bebia-.De repente chega o Senhor Pedro Machado Guimarães e, juntamente a ele, um casal. Era o Senhor Sebastião Cruz e uma das suas filhas.

Fez um sinal e me chamou do lado de fora do bar e a moça que acompanhava o pai, expôs o seu problema.E, que problema! Ela tinha se casado com um rapaz desses que veio trabalhar na Companhia Mineira e com ele tivera uma filha, cujo nome era e é, Elisângela. A menina com pouco mais de quatro anos de idade não foi suficiente para segurar aquele casamento e o pai voltou para a sua terra de origem.Tinha vindo de Três Marias, certamente transferido para Vazante, pois tanto aqui como lá a Empresa mantinha as suas atividades.

Alguns dias atrás o pai da criança veio a Vazante e, exercendo o seu direito de pai, quis ficar com a criança por algumas horas, o que lhe foi permitido. No entanto, foi à última vez que viram a criança.Ele, de forma desumana e cruel, carregou a criança, tirando-a da mãe e levando-a para Três Marias,onde voltou a morar e trabalhar. Como era uma sexta feira, orientei a sofrida mãe ir ao meu escritório na segunda feira, levando os documentos necessários a propositura da ação competente. Tanto ela como o pai já me adiantaram que não tinham como pagar os meus honorários. Isto eu já sabia, pois conhecia a família de longas datas.

De posse dos documentos e da procuração da genitora da criança,sentei-me na minha velha máquina de escrever e transferi para o papel o sofrimento daquelas criaturas, que dependiam da sensibilidade da Mma. Juíza, (naquela época era uma Juíza que estava em Paracatu).

Rodei os cento e vinte quilômetros de estrada de chão, que separava Vazante da Sede da Comarca.Entreguei aquela petição em mãos da Magistrada e fiquei sentado de frente dela rezando para que concedesse a Busca e Apreensão daquela menina, de forma Liminar.Do contrário teria a designação de uma audiência, oitiva de testemunhas, promotor... Levaria um bom tempo.

Deus ouviu as minhas preces e a Juíza deferiu a liminar requerida, mandando expedir um mandado de busca e apreensão da menor, que estaria em companhia do pai, em Três Marias, na Comarca de Corinto.

Retornei eufórico para Vazante. Cheguei escurecendo. Nem passei no escritório e fui direto à casa do Sebastião Cruz,entregar o documento para que eles providenciassem o cumprimento daquela Ordem.

Mas, qual foi à decepção. Disseram-me da forma mais humilde possível, que eles não tinham condições de ir até aquela Comarca distante, fazer cumprir a ordem expedida... Eu, fazendo uma ligeira reflexão, concluí, também, que era verdadeira aquela afirmação. Não teriam mesmo. Era bem difícil para as condições deles.

Indague se tinham meios de pelo menos arranjar com alguém um veículo que pudesse me conduzir até aquela cidade, já quase no norte de Minas? Pediram um prazo e no outro dia foram na minha casa e disseram ter arranjado com o Herval José Ferreira.-Outra pessoa serviçal, meu grande amigo e de saudosa memória -. Além do carro conseguiu também o motorista, o Senhor Celso Gonçalves.

Saímos numa segunda feira, eu a Maria Conceição, a mãe da criança, e o Celso, em direção a Corinto. Fica a mais ou menos uns cem quilômetros depois de Três Marias.

Lá chegando, fui diretamente a Secretaria da Vara Cível, para distribuir a precatória que deveria ser despachada pelo Juiz. No ato a funcionária daquela Secretaria me informou que o Juiz de Direito daquela Comarca só trabalhava de terça a quinta feira. Portanto só estaria na Comarca no outro dia.

Sem uma alternativa pernoitamos naquela cidade e somente na terça feira conseguimos ir para Três Marias, levando o Oficial de Justiça, para cumprir a Ordem Judicial de Busca e Apreensão da menor.

Preparem-se, pois, o que nos esperava foi um espetáculo de uma imensa tristeza.

Chegando ao endereço o Oficial de Justiça chamou na porta e lá de dentro uma voz nos mandou entrar. Descemos uma escadaria até alcançar o nível do piso. Uma mulher e outras três crianças estavam agachadas em torno de uma panela, comendo com as mãos uma comida requentada, comumente chamada de roupa velha. Indagada pela criança,cujo nome declinou, a mulher mostrou a Elisângela agachada num canto daquela sala enorme, pés descalços e a cabecinha metida entre os joelhos. Claramente ela não participava daquele e nem de outros banquetes reservados para os filhos daquela mulher, que ficamos sabendo depois, era a companheira do pai daquela pobre criança.

O oficial de justiça explicou pra ela a sua finalidade naquela casa e foi até onde estava a criança, que assustada negou-lhe a mão.Trazida para perto da mãe e ao examinar o corpo da criança, esse Advogado não resistiu. Virei pro outro lado e deixei as lágrimas escorrer livremente.A menina tinha as pernas, as costas, os braços, enfim o corpo todo lanhado de tanto ser submetida a constantes sevícias e maus tratos. Assustada, não reconheceu a mãe que, logicamente, estava em prantos. O velho Oficial declarou que no longo dos anos de Ofício, jamais tinha visto uma coisa daquela natureza. O Senhor Celso, também se emocionou.

A criança, parecendo um animal acuado, só veio dar fé de que estava no colo da mãe quando chegávamos a João Pinheiro.Aí ela aceitou uma bolachinha e foi se acalmando.

Poderíamos ter retornado direto pra Vazante, via ponte do Rio Escuro. Mas decidi que passaríamos em Paracatu, para mostrar a Dra. Maria Inês Lages de Oliveira, o quanto Deus se fez presente na sua mão ao proferir aquele oportuno  despacho.

A Magistrada,apesar de estar diariamente convivendo com as mazelas alheias, ao ver a criança também se comoveu e não conteve as lágrimas.

Outras providências foram tomadas após, mas não paga a pena serem relatadas.

As coisas acontecem. Os anos passam.

Ao sair da minha casa às vezes coincidia de me deparar com uma moça com os braços cheios de cadernos, indo ou vindo em direção da Escola Cândido Ulhôa, onde fiz, orgulhosamente, o meu quarto ano primário. Ao passar por mim o seu rosto resplandecia, numa auréola de um semblante alegre. Cumprimentava-me educadamente. Um dia resolvi perguntar quem era ela, ao que me respondeu emocionada ser aquela menina que eu busquei lá em Três Marias. Era a Elisângela.

Foi um reencontro emocionado.Abraçamos-nos e as lágrimas correram novamente...

Ela já tinha se formado professora e lecionava naquela escola.

Eu não disse que as coisas acontecem e os anos passam.

Fui homenageado com a Medalha HÉLIO COSTA, que o Tribunal de Justiça concede àqueles que prestaram relevantes serviços nas suas respectivas Comarcas. Foi uma festividade cheia de emoções, presenciada por uma grande quantidade de ex juízes e promotores que passaram pela Comarca. Muitos colegas advogados, amigos, familiares. Enfim foi tudo o que eu achava que nem merecia. Mas, preparem-se.

Do salão da Câmara descemos para o salão de festas da Maçonaria, onde seria servido um coquetel.

Quando as autoridades, convidados e familiares tomaram assento e o músico começou a entoar as suas canções, foi chamada a atenção para um aviso importante. Alguém queria dizer algumas palavras para o homenageado.

Quando vejo, entra a MARIA CONCEIÇÃO CARDOSO e sua filha, ELISÂNGELA ALINA DE LEMES, e de posse do microfone lê as palavras que grafara em uma placa em minha homenagem. Ao me entregarem a referida placa foi outro momento de muita emoção e o pranto desceu novamente. A placa tinha os seguintes dizeres:


 “ DR MARCIANO. COMO É BOM ESTAR AQUI, POIS HOJE TIVE OPORTUNIDADE IMENSA DE LHE AGRADECER. O SENHOR MUDOU O MEU DESTINO.  SEM A SUA AJUDA, TALVEZ EU NÃO ESTIVESSE AQUI, OU NEM ESTARIA VIVA. COMO O SENHOR USOU DE SEUS CONHECIMENTOS E FOI EFICIENTE EM SEU TRABALHO.

MUITO OBRIGADO PELO QUE FEZ POR MIM E POR MINHA FAMÍLIA.

EU LHE DESEJO MUITA SAÚDE.

                                  ELIZÂNGELA ALINA DE LEMES

                                   VAZANTE 10.03.2010

AÍ eu pergunto? 

TEM DINHEIRO QUE PAGA???


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