HOJE TEM LEILÃO...

DESDE o início da semana ouço na Rádio Montanheza a divulgação do Sindicato Rural de Vazante, convidando aos Produtores Rurais, compradores e vendedores de gado, para o Leilão de Bovinos, que acontecerá hoje, dia 15 de abril de 2.021.

SERIA um fato normal e corriqueiro, que acontecia a cada 15 dias, antes dessa maldita Pandemia, que tantos males já causou e vem causando ao nosso Povo. 

TODOS os  princípios de semanas que antecediam  as datas dos leilões quinzenários, eu já tinha me acostumado a receber o chamado do telefone celular do Presidente do Sindicato dos Produtores Rurais de Vazante, o meu amigo/irmão, Virmondes da Silva Barra, o popular e multi conhecido, BAIANÃO, me convidando, a  bem dizer, me lembrando, e me intimando para o  Leilão de Gado que acontecerá na próxima quinta-feira.

AGORA, ouvindo o chamamento da Rádio para o leilão, sinto um vazio imenso dentro de mim, pois não recebi o telefonema do Baiano, me convidando e insistindo comigo: “Leva o seu gado no leilão, Dico. Lá é onde vende e compra bem melhor. Ninguém vende gado mais no curral, não...”

OH, MEU DEUS!!!

SERÁ que eu vou me acostumar sem a presença física desse meu amigo/irmão??? 

Até hoje a minha ficha ainda não caiu. Não admito de forma nenhuma a nossa cidade de Vazante sem o Baiano. Sei que é uma obsessão. Ele se foi, sim. Essa maldita Pandemia levou ele e muitos outros amigos, que povoaram a minha existência e de muitas outras pessoas. 

PASSO a imaginar, como será esse leilão de hoje, o primeiro depois da morte do seu recriador, daquele que deu alma a esse evento tão importante para os Produtores Rurais.

A INQUIETAÇÃO é maior do que se imagina. 

MARCIANO E ELIZEU JONTOS COM O BAIANÃO

ME vejo há sessenta anos passados, na Festa da Lapa, ainda moleque, andando sem rumo lá pras bandas das barraquinhas, nas proximidades da igreja de Nossa Senhora da Lapa, quando vejo aquele meninão diferente. Não era de Vazante, pois conhecia um por um. Era de fora. Mas tinha um jeito tão amigo, tão acolhedor. Me olhou longamente e, como se me conhecesse, se aproximou e indagou as horas. - Eu intimava o meu primeiro relógio de pulso, comprado com a força do meu trabalho de servente de pedreiro, na construção da Igreja Matriz-. Procurei uma posição que me desse condições de ver as horas e o respondi: São nove horas. Naqueles tempos era tarde. Tanto ele, como eu, já devíamos estar recolhidos em casa.

CONTINUAMOS a conversar. Fiquei sabendo que era de Lagamar. Tinha vindo pra ficar na pensão do seu Padrinho, Nergico. Mas lá chegando tomou conhecimento de que a hospedagem estava totalmente tomada por hóspedes. Resolveu dar uma volta pra ver se se encontraria alguém de Lagamar, ou da região da fazenda do seu pai, que era no Pai João, para assim se ajeitar.

FOI amizade á primeira vista. O convidei para irmos pra minha casa e lá ele passaria a noite. Convite feito, convite aceito. Nunca mais nos desgrudamos um do outro. Era tanto que o Nazareno, lá de Paracatu, ao me ver, olhava de lado como se procurasse alguém e indagava com aquele seu sotaque paracatuense: “ Dico, cadê Baiano?”

MAS o leilão vai acontecer sem a sua presença material, Baiano. Mas você estará lá em todos os cantos daquele tatersal. Te vejo  de um lado a outro, chamando a atenção do Valdomiro; danando com o Roberto Preto; fazendo sinal com o dedo, chamando o Márcio, que tinha de deslocar lá do seu local de trabalho e vir até a sua mesa costumeira, para receber algumas orientações. O Andre, Leiloeiro, lá de cima a tudo observando e na expectativa de a qualquer momento seja também instado a falar com você. As pisteiras, passando e brincando com você. As pessoas te cumprimentando alegremente e para cada um você tinha alguma coisa a falar. Vejo o Macarrão passando apressado, mas interrompido por você, leva o seu pedido. Um pratinho de mandioca com pelotas e um refrigerante pequeno.” Não pode ser do grande, porque estou fazendo regime”. Segura a barriga e mostra o quanto já emagreceu. Mas, quem está por perto troca olhares de esguelha, se mostrando reticentes quanto aquela afirmativa. 

A  DAIANE vai passando com a prancheta cheia de papel nas mãos e você faz um sinal com o dedo, chamando-a. Quer saber quantas rezes fechou o leilão. Ela informa: quinhentos e tantas rezes. Alguém chama no telefone, você atende. Quer exatamente aquela informação. Você diz, seiscentas e tantas... A menina da um sorriso maroto. Você justifica: tem de aumentar um pouquinho, para atrair o comprador. O Romildo, cumprindo a sua obrigação, tristemente, faz o som...

O PESSOAL vai chegando. O Leilão vai acontecendo e você lá está e estará, Baiano, no meio desse povo que você tanto gosta e que aprendeu a te amar. Lá do alto, onde o André se posiciona, ele estará sempre te vendo, jamais apagará da mente dele a sua figura atenta a tudo o que está acontecendo no leilão. Sempre haverá de lembrar dos seus momentos quando pega o microfone e o orienta, a homenagear alguém importante que adentrou no recinto.

POIS é, Baiano. Hoje eu sairia do meu refúgio aqui do Sítio Vovó Bininha, para ir até ao Parque de Exposições, para te levar a notícia que o nosso amigo comum, Dr Alysson Paullineli, ele que tanto te prestigiou em todos os seus eventos e foi importante nos ajudando na criação da Rádio Montanheza, está sendo cotado para ser eleito para o Prêmio Nobel da Paz, em razão dos seus importantes trabalhos no âmbito da Agricultura Brasileira e Mundial. Imagino o quanto essa notícia o alegraria...

PERMANEÇA aí, Baiano. Esse leilão é seu. Todos haverão de continuar dizendo: 

HOJE tem o Leilão do Baianão, lá em Vazante...

E haveremos de repetir sempre o que você um dia disse e conseguiu: 

O MEU LEILÃO É O MAIOR DA REGIÃO.

E, É. 

COMO VOCÊ BAIANO, É O MAIOR E MELHOR, DENTRE OS MAIORES E MELHORES!!!